domingo, 16 de agosto de 2015

AS PORTAS DO SILÊNCIO

Queridos irmãos e irmãs

Hoje, solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu, partilho com vocês a 1ª parte de um texto de um monge cartuxo muito interessante. Penso que vão gostar. Na próxima semana ponho a 2ª parte.



AS PORTAS DO SILÊNCIO

(D,Estevão Chenevière, monge)


Retalhos



“Deus criou tua alma silenciosa; no batismo, num silêncio inviolado. Encheu-a Dele mesmo. O ruído a invadiu abafando a doce voz de Deus. Vota ao silencio batismal, meu irmão!”



Geradores do ruído:

                As lembranças

                               A curiosidade

                                               As preocupações.



1.       Fazer calar o ruído das lembranças



Não evoques, não reavives as más lembranças, nem uma sequer. O mal lastimado foi perdoado. A generosidade do amor presente repara o passado. O mal é um “nada”. De que serve lembrar-se dele?

Pensa unicamente na graça que te salvou. Conserva para Ele um coração filialmente contrito, sereno e terno. É isto a compunção”.



Não evoques, não reavivas nenhuma lembrança profana: o que foste, fizeste, deixaste. Confia a Deus os teus queridos, parentes e amigos. Os pensamentos podem desviar de Deus o teu espírito, perturbando tantas vezes o teu coração, tua confiança na Providência e a fé na bondade de Deus.

Tua imaginação nunca deve, a sangue-frio, transpor a clausura. Só a graça ajuda eficazmente os que amamos; e a conseguiremos em proporção de nossa intimidade com Deus.

Não guardes nenhuma lembrança material concreta disto ou daquilo com as quais não deves mais sonhar: fotos, cartas, flores, relíquias dos entes queridos. Nada conservar. Se não as olhas, de que te serve conservá-las? Prejudicam o silêncio do coração e a sua liberdade.



Fica contente com todo o laço desfeito ou cortado. Não consintas em reatar nenhum deles.

Reduz, tanto quanto a obediência e a verdadeira caridade o permitirem: a comunicação oral e epistolar com o exterior.

Quanto mais fores virgem de figuras humanas, tanto mais resplandecerá em ti a luz da face de Deus.

Sepulta a ternura pelos teus no coração de Deus.

Ama-os Nele. É infinitamente mais profundo e eficaz.

Deseja para os teus amigos o amor de Deus.

2.       Reprime a curiosidade



Não te informes sobre algo pela simples satisfação de saber. A curiosidade é contrária à virgindade da alma. O único necessário para nós é conhecer, adorar, amar e louvar a Deus.



Atira ao mar os acessórios.

Contempla Deus Nele mesmo, na oração, e não nos livros eruditos.



Reprime sobretudo 3 curiosidades:

                A das notícias

                               A da vida dos outros

                                               A curiosidade intelectual, mais perniciosa talvez, porque se mascara com pretextos ilusórios e nos consolida no orgulho.



Ignora de bom grado o que se passa no mundo. Reza por ele sem olhar para trás.



O amor de Deus (que abrange o do próximo) é mais poderoso que tudo para arrastar após Jesus tu e o mundo inteiro contigo. O pensamento que tiveres dele nada acrescenta a esta ação eficaz.



Fixa só em Deus todas as forças vivas de tua alma. Não peça notícias senão por caridade: para causar prazer, quando for oportuno, ou para fazer o bem, não para tua satisfação.



Tudo o que te dizem deste ou daquele, de suas idas e vindas, desperta imagens, reflexões, discussões, críticas interiores, enfim o ruído que Deus detesta.



Se ninguém te comunica nada sobre as coisas ou pessoas, nada perguntes. A ocasião te é favorável! Fixa os olhos sobre o eterno ou no que é reflexo autêntico de sua beleza: a natureza e as almas em que Ele se espelha. Ocupa-te exclusivamente Dele. És um serafim diante Dele. Se por dever precisarem conhecer os acontecimentos do mundo, não se aprofunde neles. Guarde livre e silencioso teu coração.



Basta-te saber quanto Deus ama os homens, que tem nas mãos seus corações e derrama sobre eles os frutos dos méritos dos santos.



Vê o mundo em Deus...e não Deus através do mundo. Sê sacrifício de louvor e a terra será melhor, e abençoada.



Para o sacrário convergem todos os corações do mundo.

Do sacrário partem todas as graças para toda a terra!



Não te ocupes de coisa alguma nem de ninguém, se não és disso encarregado.



Sê feliz por ignorar o que se passa nos ofícios, como são desempenhados, etc. Ama todos os teus irmãos com um amor igual, desapegado.



Não indagues sobre os acontecimentos insólitos da comunidade: quem vêm? Quem está de passagem? Por que tal iniciativa dos superiores? Tal empreendimento?



Tenha horror de te imiscuíres na administração do mosteiro. Reza pelos que são disto responsáveis. Quanto a ti, não reflitas, nem fales neste assunto; nem procures saber o porque disto ou daquilo. Não tenhas nenhum interesse pelo que venhas a saber. Outros foram disto encarregados para que possas ocupar-te unicamente de Deus, na liberdade e no silêncio do espírito. Nada te dizem? Nada de comunicam? Bendize ao Senhor! Ele te poupa o estorvo interior e as comp0licações dos problemas.



Ama com gratidão os que assumem as preocupações por ti. Ajuda com a tua sorridente docilidade. Quanto a ti, aceita “teu estado de despreocupação”. Deus aí te colocou para ser Ele tua única preocupação.

 È sua vontade ser o único sustento de tua alma. Não consintas em dar ouvido nem mesmo atenção aos mexericos da comunidade. Apenas reza pelos que estão em dificuldade,

Não te prestes com facilidade para fazer ou receber confidências. Pensa que exista alguém mais compreensivo que Jesus?



Não permitas que o pensamento inútil sobre o próximo venha embaraçá-lo (o espelho de sua alma).

Se não estás encarregado de velar pelos outros, não te informes da vida alheia; não reflitas a esse respeito, sobretudo com relação aos defeitos e faltas.

Somente reza, para que Deus seja amado e servido por todos. Denuncia (no capítulo) ou chama a atenção dos superiores, segundo o costume, acerca das faltas de que fostes testemunha. Mas sem vigiar, evitando os comentários interiores sobre as intenções ou a maneira como o superior acolhe ou utiliza tua proclamação. Deixa-lhe o cuidado de corrigir, e a Deus o de julgar. Tu, permaneça todo inteiro voltado para Deus só.



Todo pensamento concedido à criatura te reconduz a ti mesmo...Mesmo que todos os outros não sejam o que devem ser, guarda a Paz. Sê-o tu. A tua fidelidade silenciosa e pacífica fará muito mais pelo progresso dos teus irmãos do que tua agitação e recriminações, freqüentemente ineficazes. O exemplo de tua serenidade, tua transparência aos raios de Deus que te habita, levarão mais ao bem que todos os teus discursos e agressividade. Tua alma só deve refletir Deus.



Lê a Sagrada Escritura com um coração humilde, como comungas...com o mesmo fim – achar Deus. Degusta cada versículo, cada palavra ditada por Deus está cheia Dele. Adquirirás nela a ciência dos santos.

(Obs.: Este texto é de um monge anônimo, não é do beato Rafael).

Uma santa semana para todos!

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