segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O DESAPEGO – VIRTUDE NECESSÁRIA PARA UMA VIDA DE ORAÇÃO




Queridos irmãos e irmãs

Continuando a partilha de textos da Santa Madre Teresa de Jesus neste Ano Jubilar dos 500 anos de seu nascimento, hoje apresentamos algo do que ela relata no capítulo 8 e 9 do Caminho da Perfeição:

“Agora, falemos do desprendimento que temos que ter, porque nisto está tudo, se vai com perfeição. Aqui digo que nisto está tudo porque abraçando-nos só com o Criador e não nos importando com nada mais de todo o criado. Sua Majestade infunde de tal maneira as virtudes que, trabalhando pouco a pouco nesse sentido de desprendimento, não teremos mais que pelejar, pois o Senhor toma nossa defesa contra os demônios e tudo mais.

Pensais, irmãs, que é pouca coisa procurar este bem de dar-nos totalmente ao Todo, sem reservas? Nisto estão todos os bens, como digo, louvemo-Lo muito, irmãs, que aqui nos juntou e onde não se trata de outra coisa senão disto......

No Capítulo 9 do Caminho da Perfeição ela continua.:

Fala da necessidade de tratar com liberdade de coração com parentes, amigos ou conhecidos, não se apegando a eles. Mas, mais do que desapegar-se das criaturas sua preocupação maior é que nos APEGUEMOS ao CRIADOR:...”Trata-se em determinadamente abraçar-se a alma com o BOM JESUS, Senhor nosso, que como Nele acha TUDO, esquece tudo o mais...

No Capítulo 10 continua falando de uma coisa muito importante: Não basta desapegar-se das criaturas é preciso desapegar-se de si mesmo, de seu “eu”:

“Poderia parecer que afastadas do mundo e das criaturas já tudo está concluído, tudo feito, e que não é preciso lutar mais com nada nem ninguém. Oh! Irmãs, minhas! Não vos assegureis nem cochilai, que será como aquele que se recosta muito sossegado tendo fechadas todas as portas por medo dos ladrões e os deixa em casa; já sabeis que não há pior ladrão, pois ficamos nós mesmas, e se não andamos com muito cuidado a contrariar a própria vontade, haverá muitas coisas que roubarão essa santa liberdade de espírito  que a fará encaminhar-se para seu Criador sem ser carregada de terra e de lama.”

Uma boa semana a todos.

sábado, 11 de outubro de 2014

AINDA SOBRE A PRIMEIRA EXIGÊNCIA PARA UMA VIDA DE ORAÇÃO



Queridos irmãos e irmãs

Concluindo o que foi transcrito sobre a 1ª virtude para uma vida de oração – a caridade fraterna, consideremos o que ela narra no Livro da Vida (24,6): Depois de uma graça que o Senhor lhe concedeu, sentiu-se liberta de apegos afetivos e disse: “Nunca mais consegui permanecer em amizades nem ter consolo nem afeição particular senão por pessoas que, pelo que percebo, amam a Deus e procuram servi-Lo”.

 Resumindo: O amor sensível é sentimental, fixa o olhar em valores medíocres, de mera aparência, caducos. É o amor efêmero, exposto aos vaivéns da vida. Enquanto que o amor puro, espiritual, ama a pessoa pelo que ela é e por seus valores estáveis, capazes de alicerçar um amor eterno, não exposto às ondas do quotidiano. É um amor que dignifica as pessoas que o possuem, como já foi visto na semana passada (C.P.6,4).

 E termina aconselhando suas filhas: “Desejo que se queiram e se amem ternamente e com prazer, mesmo que não seja com tanta perfeição como o amor de que estou falando (amor puro, espiritual): que não haja ponto de discórdia”. (CP 11,11).

Teresa está convencida de que só chegaremos a praticar com perfeição esse preceito se o amor do próximo tiver como raiz o amor de Deus (5M 3,9).


“Aqueles que de fato amam a Deus, tudo o que é bom amam, desejam tudo o que é bom, estimulam tudo o que é bom, louvam tudo o que é bom. Aos bons se unem sempre, favorecendo-os e defendendo-os; não amam senão a verdade e as coisas verdadeiramente dignas de amor. Pensais que quem ama genuinamente a Deus possa amar vaidades? Não, tampouco pode amar riquezas, coisas do mundo, deleites, honras ou ter contendas e invejas. Tudo porque não pretendem outra coisa senão contentar o Amado (C.P. 40,3).


Uma boa semana a todos.

sábado, 4 de outubro de 2014

1ª COISA NECESSÁRIA PARA A VIDA DE ORAÇÃO: A CARIDADE

Queridos irmãos e irmãs

Vamos continuar a partilha do texto do Caminho da Perfeição, selecionando trechos:



“Quanto a primeira, que é amar-vos muito umas às outras,vai nisto muito, muito. Pois não há coisa difícil que não se passe com facilidade entre os que se amam; e forte há de ser a coisa quando lhe causa enfado. E se este mandamento se guardasse no mundo como se deveria guardar, creio que aproveitaria muito para se guardarem os demais. Mas, em mais ou em menos, nunca conseguimos guardá-lo com perfeição........ Nesta casa todas hão de ser amigos, todas hão de se amar......Amemos as virtudes e o bom espírito e tenhamos sempre um cuidadoso empenho de não fazer caso de tudo quanto é exterior. Não consintamos, ó irmãs, que o nosso coração seja escravo de ninguém senão d’Aquele que o comprou com o Seu sangue......
Como há de ser este amar-se e que coisa é amor virtuoso.....quereria eu dizer um poucochinho, conforme a minha rudeza.....De dois modos de amor é o que eu quero tratar:um, espiritual, porque parece que em nenhuma coisa toca nos sentidos nem na ternura da nossa natureza, de modo a que lhe tirem a sua pureza. O outro é também espiritual, mas junto com elevai a nossa sensibilidade e fraqueza. É amor bom, que parece lícito, como o de parentes e amigos. Deste, já fica dito alguma coisa. Do que é espiritual,,sem que intervenha paixão alguma, quero eu agora falar, porque, havendo paixão, vai desconcertado todo este concerto.Se tratamos com moderação e discrição com as pessoas virtuosas .....é proveitoso. Espero no Senhor que Ele não permitirá que, pessoas que hão de tratar sempre de oração, possam ter amizade senão a quem for muito amigo de Deus....
Parece-me agora a mim que, quando Deus chega uma pessoa ao claro conhecimento do que é o mundo, e que coisa é o mundo,e que há outro mundo e a diferença que vai de um ao outro, e que um é eterno e o outro sonhado; ou que coisa é amar ao Criador ou à criatura (isto conhecido por experiência, que é coisa bem diferente de somente o pensar e crer), ou ver e experimentar o que se ganha com um e se perde com o outro; e o que é ser Criador e o que é ser criatura, e outras muitas coisas que o Senhor ensina a quem se quer prestar a ser ensinado por Ele na oração, ou a quem apraz a Sua Majestade, essa pessoa ama muito diferentemente de nós,que não chegamos ainda aqui.....

Estas pessoas que Deus faz chegar a este estado, são almas generosas, almas reais; não se contentam com amar coisa tão ruim como estes corpos, por formosos que sejam, por muitas graças que tenham, bem que lhes agrade à vista e louvem o Criador. Mas para aí se deter, não. Digo deter-se, de maneira a que por estes motivos lhe tenham amor. Parecer-lhes-ia que amam coisa sem substância e que se empregam a querer bem a uma sombra; teriam vergonha de si mesmos e não teriam cara, sem grande confusão sua, para dizer a Deus que O amam....Quanto ao ser amadas pelas criaturas não o desejam com ânsia. São livres. ...

Agora notem que, quando queremos o amor de alguma pessoa, sempre se pretende algum interesse de proveito ou satisfação nossa. Ora, estas pessoas perfeitas já tem debaixo dos pés todos os bens e regalos que o mundo lhes pode dar; já estão de maneira que, contentamentos – ainda mesmo que os queiram, a modo de dizer –não os podem ter, a não ser que seja com Deus ou em tratar de Deus. Que proveito, pois, lhes pode vir de serem amadas?....

Estas tais almas são sempre afeiçoadas a dar muito mais do que a receber; até com o mesmo Criador lhes acontece isto. Digo que este merece o nome de amor, que estas outras afeições baixas tem-lhe usurpado o nome.”  (Cap. VII, Caminho da Perfeição).

Uma boa semana a todos.