sábado, 12 de agosto de 2017

O MONTE DA PERFEIÇÃO DE SÃO JOÃO DA CRUZ

Queridos irmãos e irmãs

Nesta vésperas do dia dos Pais, partilho com vocês uma pérola preciosa de nosso Pai São João da Cruz, a doutrina para chegar a perfeita união com Deus. Talvez pareça um pouco difícil mas se ler com atenção, vai ver que não é tanto assim.


SUBIDA – S.J.Cruz é claro – para chegar a união com Deus a alma há que passar pela noite. Ele é consciente desde o início de que se trata de uma doutrina difícil de entender e mais difícil de viver. Porém ele sabe a quem se dirige e porque se dirige: a algumas pessoas de nossa sagrada religião por me have-lo pedido (Prólogo).
Para esta primeira parte, o ponto de partida é o desenho do Monte. E pode ser o primeiro passo: explicar o desenho do monte.

Esta era uma das formas pedagógicas de Fr. João: “Entre os demais escritos que escreveu, fez um papel que ele chama “Monte da Perfeição”, pelo qual ensinava que para subir à perfeição nem se havia de querer bens da terra, nem do céu, senão somente não querer nem buscar nada, senão buscar e querer em tudo a glória e honra de Deus nosso Senhor, com coisas particulares a este propósito, o qual Monte da Perfeição se lho declarou a esta testemunha o dito Santo Padre, sendo seu prelado no dito convento de Granada” (Martin de S.José)

“Ali, no desenho do Monte se verá a doutrina que ele ensinava e quão desapegado e despojado era das coisas desta terra. Este “montezinho” dava-o ele às descalças e desejava que o entendessem e exercitassem” (Ana de Santo Alberto).

Esse papelzinho se ló dava frei João aos seus dirigidos para que o levassem no Breviário: “traziam nos breviários uns papeizinhos nos quais estavam pintados e rotulados o Monte Carmelo e sua Subida que era doutrina de grande perfeição, ordenada e feita pelo dito servo de Deus Frei João da Cruz” (Eulógio Pacho)

“Escrevia também alguns momentos coisas espirituais e de proveito e ali (Beas) compôs o Monte e nos fez, a cada uma, um de seu próprio punho para o breviário” (Madalena do Espírito Santo) No dela estava esta dedicatória: “Para minha filha Magdalena”.

Quem tornou público e conhecido o desenho de frei João da Cruz foi Diego de Astor, personagem importante na Espanha, discípulo de El Greco, desenhista da moeda real do Império Espanhol, profissionalmente qualificado. Ele reproduziu o desenho que s.J.da Cruz fez para os frades e monjas. Este tinha apenas as linhas essenciais, sem muito colorido.Proliferou-se então os desenhos com emendas e correções.

Significado do desenho:
1.       Ao pé do Monte – as sentenças. São encontradas em Is 13,11-13 e Is 13, 5-6. S. J.da Cruz nos pede as atitudes fundamentais que aí estão transcritas. O fim destas sentenças é dar doutrina para subir o Monte, que é o mais alto da união. Pode-se aplicar ora a parte sensitiva, ora à parte espiritual, ora também a purificação da memória (III S 15,1). Sua ideia central é a contraposição do NADA ao TUDO.
O caráter ascético das ditas sentenças é evidente, assim como é clara a insinuação ao papel negativo das virtudes teologais para não saber (fé), não Gostar (caridade), não possuir (esperança) nada fora de Deus. Se não superarmos esta primeira etapa não escalaremos jamais o Monte:-

Modo para chegar ao TUDO:
Para vir a saborear TUDO não queiras ter gosto em NADA;
Para vir a saber TUDO, não queiras saber algo em NADA:
Para vir a possuir TUDO, não queiras possuir algo em NADA
Para vir a ser TUDO não queiras ser algo em NADA

Modo de vir ao TUDO:
Para vir ao que não GOSTAS; hás de ir por onde não Gostas;
Para vir ao que não SABES, hás de ir por onde não SABES;
Para vir a possuir o que não POSSUIS, hás de ir por onde não POSSUIS;
Para chegar ao que não ÉS, hás de ir por onde não ÉS.

Modo para não impedir ao TUDO:
Quando reparas em algo – deixas de lançar-te ao TUDO;
Para vir de todo ao TUDO – hás de deixar-te de todo a TUDO;
E quando venhas de todo a ter – hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se queres ter algo em TUDO, não tens puro em Deus o teu tesouro.

Indício de que se tem o TUDO
Nesta desnudez encontra o espírito o seu descanso;
Pois nada cobiçando, nada o impele para cima e nada o oprime para baixo
Porque está no centro da sua humildade.

AS TRES SENDAS – 3 OPÇÕES

1ª SENDA – CAMINHO DA DIREITA:
Afeição desordenada aos bens da terra. “Quanto mais buscá-lo quis, com tanto menos me achei”. Não pode subir ao Monte por tomar caminho errado: gosto, liberdade, honra, etc. Se me busco a mim mesmo, não encontro a Deus. Perco o caminho.

2ª SENDA – CAMINHO DA ESQUERDA:
Afeição desordenada aos bens do céu. “Por have-los procurado tive menos que teria se subisse a senda”. Tardei mais e subi menos porque não subi pela senda: Busca de glória, segurança, gozo, consolos...Isto não te impede subir o Monte, mas te carrega com muito peso e te atrasa porque tens que dar muitas voltas. Olha a guerra que manterás, o tempo que perderás, as forças que dispersarás.

3ª SENDA – CAMINHO CENTRAL. Senda da Perfeição.
Depois de repetir 5 vezes o NADA, coloca no cimo do Monte: NADA.
Queres chegar ao Monte? Sabes que caminho tens que percorrer? Não o da direita, não chegarás a lugar nenhum, esbarrarás no vazio. Não o da esquerda: é possível chegar lá, mas te cansarás porque nele dá-se muitas curvas, é cansativo.
Se queres chegar ao Monte vai pelo centro. Busca o essencial, busca somente Deus, nega-te a TODO o resto: “Quanto menos o queria, tenho tudo sem querer”. Encontrarás o cêntuplo que Cristo prometeu.
Esta senda é a única que penetra o Monte, conectando diretamente com a planície do mesmo, na qual está escrito:

“Introduxi vos in terram Carmeli”...Em cujo coração está o lema que presidiu a ascensão espiritual: “Só mora neste Monte a honra e glória de Deus.”

A senda da perfeição é mais estreita que as outras duas, o que quer dizer que o viandante tem que estreitar-se e adelgaçar, se quiser passar (papel curativo das virtudes teologais, cujo ofício é “apartar a alma de tudo o que é menos que Deus” b(2N 21,11).

No cume não coloca nenhuma senda porque por aqui não há caminho, porque para o justo não há lei. Vive-se a liberdade do amor, a liberdade dos filhos de Deus. Ele para si é lei (Rom 2,14). É este o estado da alma que chegou ao cume da perfeição.

E o que encontra no Monte: Fé, Esperança, Caridade. As virtudes teologais. Vive-se as virtudes teologais. Ao redor coloca os dons do Espírito Santo, virtudes e frutos também. São os frutos da terra do Carmelo aos quais somos chamados a saborear. É isto o que vivem as almas que escalam o Monte.

Quando não o quis, com amor de propriedade, foi-me dado tudo sem que o buscasse. E no Monte, nada – por aqui não há caminho, pois para o justo não há lei. Depois que me pus em nada, acho que nada me falta. Sabedoria, ciência, fortaleza, conselho, inteligência, Piedade, temor de Deus, Justiça, Força, Prudência, Temperança, Caridade, Alegria, Paz, Longanimidade, Paciência, Bondade, Benignidade, Mansidão, Fé, Modéstia, Continência, Castidade, Segurança, Fé, Amor, Esperança, divino Silêncio, Divina Sabedoria, Perene Convívio – Só mora neste Monte a honra e glória de Deus:
“Eu vos introduzi na terra do Carmelo, para que comêsseis o seu fruto e o melhor dela” (Jr 2,7).

Uma boa semana a todos.