sexta-feira, 24 de julho de 2015

AINDA O "PAI-NOSSO"



Queridos irmãos e irmãs

Hoje partilho com vocês uma parte de um artigo de Armindo dos S. Vaz na Revista de Espiritualidade Teresa de Jesus.

A Bíblia e Teresa na oração do Pai-nosso.

“Para estimular a alma à oração, Teresa não tinha recurso mais excelente do que o Evangelho. E do evangelho privilegiou a oração do Pai-nosso, que nos põe a falar com Deus como Pai e nos sintoniza com os sentimentos de Jesus como Filho, na sua relação com Deus e conosco. No Caminho da Perfeição, a influência da oração bíblica em Teresa é total, como ela reconhece: “É sempre grande bem fundar a vossa oração sobre orações ditas por uma tal boca como a do Senhor” ( 21,3). “É coisa para louvar muito o Senhor ver como é subida em perfeição esta oração evangélica...ordenada por tão bom Mestre (C 37,1).

 As suas ressonâncias do Pai-nosso evangélico nesse grande livro são pedagogia e mistagogia para o mistério da oração cristã: ensina a rezar rezando diante das leitoras a partir da oração de Jesus para chegar ao Pai.

 Rezando ao Pai com as palavras do próprio Jesus, o orante faz comunhão com o Pai, conduzido por Jesus. Porque é ensinado por Jesus, todo aquele que reza o Pai-nosso com Ele sente-se filho no Filho. No Pai-nosso encontra-se a experiência suprema que o ser humano pode ousar chamar a Deus seu Pai. É o caso de dizer: feliz oração a daquele que nela sente ter Deus como Pai,sem que ocupe o lugar do pai humano mas elevando-o.

O amor inclusivo do Pai-nosso para com os humanos, para ser compreendido, tem de aceitar os outros como filhos do mesmo Pai, ou seja, precisa de amá-los como irmãos. Se o orante não cuidar deles, não pode rezar ao Pai do seu irmão. Se na vida não nos comportamos como filhos de Deus e fechamos o coração ao amor fraterno, em vão rezaremos “Pai-Nosso”. Mas também – diz Teresa – “não chegaremos a ter com perfeição o amor ao próximo, se não nascer de raiz do amor de Deus" (5M 3,9).

Ensinando os humanos a chamar Deus por “Pai-nosso” com o plural e evitando o eu singular (“venha a nós”; “dá-nos o pão”), Jesus, Filho, coloca-se do nosso lado, numa humanidade partilhada por ele e por nós. É por excelência oração de comunhão e de comunicação. Não só faz de mediador que nos une com Deus. Reza conosco, como um de nós. O Pai-nosso é o ser de Jesus diante de seu Pai e diante dos seus irmãos. Teresa intuiu bem este mistério: “Como se faz aqui (o Vosso Filho) uma só coisa conosco pela parte que tem de nossa natureza e, como Senhor da Sua vontade, lembra a Seu Pai...que no-la pode dar” (C33,5).”

Uma boa semana a todos!

domingo, 19 de julho de 2015

AS MAIS BELAS PÁGINAS DE SANTA TERESA DE JESUS

Queridos irmãos e irmãs

Neste domingo quero partilhar convosco uma das páginas do "Castelo Interior" ou "Moradas", cap. 1 (1ª Morada). É muito belo!

"Consideremos nossa alma como um castelo, feito de um só diamante ou de limpidíssimo cristal. Neste castelo existem muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas.
Se refletirmos bem, irmãs, veremos que a alma do justo é nada menos que um paraíso, onde o Senhor, como Ele mesmo diz, acha suas delícias.
Que vos parece? Como será o aposento onde se compraz um Rei tão poderoso, tão sábio, tão puro, tão rico de todos os bens? Nada posso imaginar comparável à beleza de uma alma e a sua imensa capacidade. Por agudas que sejam, as nossas inteligências não chegam a compreendê-la verdadeiramente, assim como não compreendem a Deus. É Ele próprio quem diz nos ter criado à sua imagem e semelhança.
Se assim é - e nisso não há dúvida - não nos cansemos tentando descrever a formosura deste castelo. Entre ele e Deus existe a diferença que vai da criatura ao Criador. Em suma, é coisa criada. Mas basta Sua Majestade afirmar que a fez à sua imagem, para termos uma longínqua idéia da grande dignidade e beleza da alma.
Não é pequena lástima e confusão não nos entendermos a nós mesmos, por nossa culpa, nem sabermos quem somos.
Sr perguntássemos a uma pessoa quem ela é, e não soubesse responder, nem dizer quem foi seu pai, sua mãe, ou a terra em que nasceu, seria grande ignorância, coisa mais própria de animal que de homem.
Bem maior, sem comparação, e a nossa insensatez, desconhecendo nosso valor e concentrando toda a atenção no corpo. Sabemos muito por alto que nossa alma existe, porque assim ouvimos dizer e a fé no s ensina. Mas as riquezas que há nesta alma, seu grande valor, quem nela habita - eis o que raras vezes consideramos.
O resultado é não fazermos caso de sua beleza, nem procurarmos com todo cuidado conservá-la. Todos os desvelos se consomem no grosseiro engaste, nas muralhas deste castelo, que são nossos corpos."

Uma boa semana a todos.


 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

COMBATE ESPIRITUAL




Queridos irmãos e irmãs

Nesta semana, na 3ª feira uma das leituras da missa (Gên 32, 22-32) fala sobre a luta que Jacó teve com um anjo em figura humana, na margem do rio Iaboc. Jacó pode  vencer no combate somente por causa da força que Deus lhe comunicou, e a lição dessa façanha foi que não lhe haviam de faltar a bênção e a proteção divina nas dificuldades futuras.

Para os santos Padres, esta cena do Antigo Testamento é imagem do combate espiritual que o cristão deve travar contra forças muito superiores às dele, e contra as suas próprias paixões e tendências, inclinadas ao mal depois do pecado original.

Há diariamente combates no nosso coração, ensina Santo Agostinho. Cada homem luta na sua alma contra um exército. Os inimigos são a soberba, a avareza, a gula, a sensualidade, a preguiça...E é difícil que esses ataques não nos produzam alguma ferida (Santo Agostinho). Não obstante temos a certeza da vitória se lançamos mão dos recursos que o Senhor nos deu: a oração, a mortificação, a sinceridade plena na conversa com o sacerdote, a ajuda do nosso Anjo da Guarda e, sobretudo, da nossa Mãe Santíssima.
 
Nos jogos olímpicos, o árbitro permanece no meio dos dois adversários, sem favorecer nem um nem outro, esperando pelo desfecho. 

No combate contra o demônio, Cristo não permanece indiferente, neutro. Está totalmente do nosso lado: “Ele ungiu-nos com o óleo da alegria e atou o inimigo com correntes pesadas para lhe paralisar os assaltos. Se eu vier a tropeçar, Ele estende-me a mão, levanta-me da minha queda e volta a pôr-me de pé” (São João Crisóstomo).

Por maiores que sejam as tentações, as dificuldades, as tribulações, Cristo é a nossa segurança. Ele não nos abandona. Ele está sempre do nosso lado. Todos podemos então dizer como São Paulo: “Tudo posso naquele que me conforta” , que me dá a ajuda de que necessito, se sei recorrer a Ele e aos meios que estabeleceu.

Este combate espiritual nos acompanha na vida, em direção à santidade. O que nos fará perseverar nesse combate é o amor pelas alturas (“corações ao alto!”), o amor profundo por Cristo, a quem procuramos incessantemente.

A luta ascética do cristão deve ser positiva, alegre, constante, com “espírito esportivo”. Não tem a rigidez do cartão: sabe sorrir, ceder, esperar. É vida: vida sobrenatural” (Do livro de meditações nº 4 “Falar com Deus”).

Uma boa semana a todos!

sábado, 4 de julho de 2015

PARTICIPAÇÃO ATIVA DO POVO NA EUCARISTIA




Queridos irmãos e irmãs

Nesta semana partilho com vocês um trecho escrito pelo Papa Bento XVI no seu livro”Introdução ao Espírito da liturgia”, pois é muito interessante:

Ele fala do que dignifica a participação ativa do povo na Eucaristia.

“Em que consiste,porém, essa participação ativa? O que é preciso fazer? Infelizmente essa expressão foi rapidamente mal compreendida e reduzida ao seu significado exterior, o da necessidade de um agir comum, como se se tratasse de fazer entrar em ação o maior número possível de pessoas e com a maior freqüência possível....................

A verdadeira ação litúrgica, o verdadeiro ato litúrgico, é a oratio: a grande oração, que constitui o núcleo da celebração litúrgica e que, exatamente por isso, em seu conjunto, foi chamada pelos Padres de oratio (oração)........Essa “oratio” – a solene oração eucarística, o “Canon” – é realmente mais do que um discurso, é actio (ação) no sentido mais alto do termo.....

A actio humana passa para segundo plano e abre espaço para a actio divina, para o agir de Deus. Nessa oratio o sacerdote fala com o Eu do Senhor – “isto é o meu corpo”, “isto é o meu sangue”, na consciência de que agora não fala mais por si mesmo, mas em razão do sacramento que recebeu, se torna voz do Outro que agora fala e age. 

Esse agir de Deus, que se realiza através de um discurso humano, é a verdadeira “ação” que a criação inteira espera: os elementos da terra são trans-substanciados, arrancados, por assim dizer, de sua natureza criatural, reconstituídos no fundamento mais profundo de seu ser e transformados no Corpo e no Sangue do Senhor. O novo céu e a nova terra são antecipados. 

A verdadeira ação da liturgia, na qual todos devemos tomar parte, é ação de Deus. É essa a novidade e a particularidade da liturgia cristã: é o próprio Deus quem age e realiza o essencial. Ele introduz a nova criação, torna-se acessível de modo que possamos nos comunicar com Ele de maneira absolutamente pessoal, através das coisas da terra, por meio dos nossos dons.

 Mas como podemos tomar parte nessa ação? Deus e o ser humano não são completamente incomensuráveis? O ser humano, que é finito e pecador, pode cooperar com Deus que é infinito e santo?

 Ele pode pelo fato de que Deus se fez homem, tornou-se corpo e continua, ainda com o seu corpo, a vir ao nosso encontro, que vivemos no corpo. O evento inteiro, feito de Encarnação, Cruz, Ressurreição e retorno à terra está presente na forma com a qual Deus toma o ser humano para cooperar com Ele.

 Na liturgia isso se exprime pelo fato de que da oratio faz parte a oração de aceitação. Certamente, o sacrifício do Logos (Verbo) é sempre já aceito. Todavia nós devemos rezar para que se torne o nosso sacrifício, para que nós sejamos transformados no Logos e, assim, nos tornemos verdadeiro corpo de Cristo: é disso que se trata. E isso deve ser pedido na oração. Essa oração é uma via, um estar a caminho em nossa existência rumo ``a Encarnação e à Ressurreição. Nesse “ação”, nesse aproximar-se orante na participação, não há nenhuma diferença entre sacerdote e leigo. 

Indubitavelmente, dirigir ao Senhor a oratio em nome da Igreja e falar em seu ápice com o Eu de Jesus Cristo é alguma coisa que só pode acontecer em virtude do sacramento. Todavia, a participação naquilo que não foi feito por nenhum ser humano, e sim pelo Senhor e somente por Ele, é igual para todos. Para todos, o ponto é segundo o que se lê em 1 Cor 6,17: “o que se une ao Senhor é um só espírito com Ele”.

 O ponto é que, no fim, seja superada a diferença entre a actio de Cristo e a nossa – a nossa pelo fato de que nos tornamos “um corpo e um espírito” com Ele. A singularidade da liturgia eucarística consiste exatamente no fato de que é o próprio Deus quem age, e que nós somos atraídos para dentro desse agir de Deus. Em relação a esse fato, todo o resto é secundário.”


Sei que o texto é um pouco difícil, mas releia com paciência e verá as conseqüências: uma participação mais consciente no mistério Eucarístico.

Uma boa semana a todos.