Queridos irmãos e irmãs
Nesta semana partilho com vocês um trecho escrito pelo Papa
Bento XVI no seu livro”Introdução ao Espírito da liturgia”, pois é muito
interessante:
Ele fala do que dignifica a participação ativa do povo na
Eucaristia.
“Em que consiste,porém, essa participação ativa? O que é
preciso fazer? Infelizmente essa expressão foi rapidamente mal compreendida e
reduzida ao seu significado exterior, o da necessidade de um agir comum, como
se se tratasse de fazer entrar em ação o maior número possível de pessoas e com
a maior freqüência possível....................
A verdadeira ação litúrgica, o
verdadeiro ato litúrgico, é a oratio: a grande oração, que constitui o núcleo
da celebração litúrgica e que, exatamente por isso, em seu conjunto, foi chamada
pelos Padres de oratio (oração)........Essa “oratio” – a solene oração
eucarística, o “Canon” – é realmente mais do que um discurso, é actio (ação) no
sentido mais alto do termo.....
A actio humana passa para segundo plano e abre
espaço para a actio divina, para o agir de Deus. Nessa oratio o sacerdote fala
com o Eu do Senhor – “isto é o meu corpo”, “isto é o meu sangue”, na
consciência de que agora não fala mais por si mesmo, mas em razão do sacramento
que recebeu, se torna voz do Outro que agora fala e age.
Esse agir de Deus, que
se realiza através de um discurso humano, é a verdadeira “ação” que a criação
inteira espera: os elementos da terra são trans-substanciados, arrancados, por
assim dizer, de sua natureza criatural, reconstituídos no fundamento mais
profundo de seu ser e transformados no Corpo e no Sangue do Senhor. O novo céu
e a nova terra são antecipados.
A verdadeira ação da liturgia, na qual todos
devemos tomar parte, é ação de Deus. É essa a novidade e a particularidade da
liturgia cristã: é o próprio Deus quem age e realiza o essencial. Ele introduz
a nova criação, torna-se acessível de modo que possamos nos comunicar com Ele
de maneira absolutamente pessoal, através das coisas da terra, por meio dos
nossos dons.
Mas como podemos tomar parte nessa ação? Deus e o ser humano não
são completamente incomensuráveis? O ser humano, que é finito e pecador, pode
cooperar com Deus que é infinito e santo?
Ele pode pelo fato de que Deus se fez
homem, tornou-se corpo e continua, ainda com o seu corpo, a vir ao nosso
encontro, que vivemos no corpo. O evento inteiro, feito de Encarnação, Cruz,
Ressurreição e retorno à terra está presente na forma com a qual Deus toma o
ser humano para cooperar com Ele.
Na liturgia isso se exprime pelo fato de que
da oratio faz parte a oração de aceitação. Certamente, o sacrifício do Logos
(Verbo) é sempre já aceito. Todavia nós devemos rezar para que se torne o nosso
sacrifício, para que nós sejamos transformados no Logos e, assim, nos tornemos
verdadeiro corpo de Cristo: é disso que se trata. E isso deve ser pedido na
oração. Essa oração é uma via, um estar a caminho em nossa existência rumo ``a
Encarnação e à Ressurreição. Nesse “ação”, nesse aproximar-se orante na
participação, não há nenhuma diferença entre sacerdote e leigo.
Indubitavelmente, dirigir ao Senhor a oratio em nome da Igreja e falar em seu
ápice com o Eu de Jesus Cristo é alguma coisa que só pode acontecer em virtude do
sacramento. Todavia, a participação naquilo que não foi feito por nenhum ser
humano, e sim pelo Senhor e somente por Ele, é igual para todos. Para todos, o
ponto é segundo o que se lê em 1 Cor 6,17: “o que se une ao Senhor é um só
espírito com Ele”.
O ponto é que, no fim, seja superada a diferença entre a
actio de Cristo e a nossa – a nossa pelo fato de que nos tornamos “um corpo e um
espírito” com Ele. A singularidade da liturgia eucarística consiste exatamente
no fato de que é o próprio Deus quem age, e que nós somos atraídos para dentro
desse agir de Deus. Em relação a esse fato, todo o resto é secundário.”
Sei que o texto é um pouco difícil, mas releia com paciência
e verá as conseqüências: uma participação mais consciente no mistério
Eucarístico.
Uma boa semana a todos.
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