Queridos irmãos e irmãs
Domingo iniciamos a Semana mais Santa do Ano, esperada e
preparada com 40 dias de deserto.
Lendo um livro de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith
Stein) “Ciência da Cruz” que é um comentário de alguns dos livros de São João
da Cruz, meu coração se encheu de ação de graças pelas maravilhas que Deus
pensou para o homem, ou seja, para a humanidade.
Deus totalmente voltado para a sua criatura e para o rei da
criação. Desde toda a eternidade o pensou e amou. E amou tanto o mundo que
enviou seu Filho único – Jesus Cristo – e através de Jesus Cristo aconteceu as
núpcias de Deus Trino com a sua pequena obra. Vejamos:
“Ao suave sopro, a alma percebe em seu íntimo a doce voz do
Esposo, e une sua própria voz à dele em doce júbilo. Assim como o rouxinol
canta na primavera, depois de passarem o frio, as chuvas e a inconstância do
inverno, assim, há de soar seu canto de amor, numa nova primavera da alma,
quando “livre de todas as perturbações e inconstâncias temporais, despida e
purificada das imperfeições das penas e da escuridão, tanto nos sentidos como
no espírito, ela sente uma nova primavera, com liberdade, amplidão e alegria de
espírito”.
Refeita, amparada e inundada pelo sentimento de alegria, a alma “dedica
sua voz a Deus, com um novo cântico de júbilo, e juntamente com Deus, que a
estimula...O Esposo dá a ela sua voz, para que ela e ele a dediquem em uníssono
a Deus”. É que o esposo deseja ardentemente que “a alma erga sua voz espiritual
em júbilo a Ele. Para ser perfeito, o hino de júbilo é doce para Deus e para si
mesma, embora não se aproxime do cântico novo da eterna glória (Cântico
Espiritual de S. João da Cruz estrofe 38,39).
....O caminho da alma foi-nos revelado numa sequência
variada de imagens: pudemos lançar um olhar aos desígnios secretos de Deus, que
desde a aurora da criação traçara este caminho. Vimos que o caminho secreto da
alma está entrelaçado com os mistérios da Fé.
Desde toda a eternidade a alma foi
predestinada a participar como esposa do Filho de Deus, da vida trinitária, da
Divindade. Para desposá-la, o Verbo Eterno revestiu-se com a natureza humana:
Deus e a alma devem constituir dois em uma só carne. Mas a carne do homem
pecador está revoltada contra o espírito; por isso, toda a vida carnal é feita
de luta e sofrimento.
Estes atingiram o Filho do Homem mais que qualquer outro
da humanidade, e, entre os homens, são mais atingidos os que mais intimamente
estão ligados a Cristo. Jesus Cristo é solícito para com a alma e entrega sua
própria vida em favor da vida da alma, na luta contra os inimigos seus e dela.
Ele afugenta Satanás e todos os espíritos malignos onde quer que os encontre
pessoalmente, e arranca as almas da sua tirania.
Ele revela cruamente a malícia
humana onde quer que se oponha, cega, disfarçada e obstinada. A todos que
reconhecem seu pecado, confessando-o humildemente e desejando intimamente ser
libertados, Jesus Cristo estende a mão, exigindo-lhes, entretanto, imitação
incondicional e renúncia a tudo quanto se opõe ao seu Espírito.
Isso levanta
contra ele o furor do inferno e o ódio e a malícia da mesquinhez humana, a
ponto de investirem contra ele, preparando-lhe a morte de cruz. Aqui se paga à
Justiça divina, pelos tormentos extremos do corpo e da alma e principalmente
pela noite do abandono de Deus, o preço das dívidas acumuladas pelos pecados de
todos os tempos.
Ele abre as comportas da misericórdia do Pai para todos os que
têm a coragem de abraçar a cruz do Crucificado. Sobre estes, ele derrama sua
luz e sua vida, que são divinas e que destroem incessantemente tudo quanto se
lhes opõe e por isso dão, a princípio, a sensação de noite e de
morte..........
O desmoronamento progressivo da natureza humana dá maior espaço
à luz sobrenatural e à vida divina a qual se apodera das energias naturais e as
transforma em energias divinizadas e espiritualizadas.
Desta forma, realiza-se
no cristão uma nova encarnação de Cristo, equivalente a uma ressurreição da
morte na Cruz. O homem novo traz no corpo os estigmas do Cristo: são a
lembrança da miséria dos pecados de onde foi ressuscitado para a vida
bem-aventurada, e a lembrança do preço que isso custou. Resta-lhe a ânsia pela
plenitude da vida, até que a morte física lhe permita entrar na luz sem sombra.
Assim entendida, a união nupcial da alma com Deus é o fim
para o qual a alma foi criada, e é uma união adquirida pelo preço da cruz,
realizada na cruz e selada, para todo o sempre com a cruz.”
O trecho é um pouco longo mas se reler com calma vai ver que
é um resumo, uma síntese da trajetória do homem desde a criação até a
consumação na eternidade.
Edith Stein |
Essa íntima união com Deus não é só para as almas
prediletas, almas contemplativas ou almas a Deus consagrada, mas é para todo
batizado, ou melhor para todo aquele que veio a este mundo. A estas grandezas
somos chamados!
Uma santa semana e uma Feliz Páscoa!