sexta-feira, 27 de março de 2015

PÁSCOA – NUPCIAS COM A TRINDADE




Queridos irmãos e irmãs

Domingo iniciamos a Semana mais Santa do Ano, esperada e preparada com 40 dias de deserto.
Lendo um livro de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) “Ciência da Cruz” que é um comentário de alguns dos livros de São João da Cruz, meu coração se encheu de ação de graças pelas maravilhas que Deus pensou para o homem, ou seja, para a humanidade.

Deus totalmente voltado para a sua criatura e para o rei da criação. Desde toda a eternidade o pensou e amou. E amou tanto o mundo que enviou seu Filho único – Jesus Cristo – e através de Jesus Cristo aconteceu as núpcias de Deus Trino com a sua pequena obra. Vejamos:

“Ao suave sopro, a alma percebe em seu íntimo a doce voz do Esposo, e une sua própria voz à dele em doce júbilo. Assim como o rouxinol canta na primavera, depois de passarem o frio, as chuvas e a inconstância do inverno, assim, há de soar seu canto de amor, numa nova primavera da alma, quando “livre de todas as perturbações e inconstâncias temporais, despida e purificada das imperfeições das penas e da escuridão, tanto nos sentidos como no espírito, ela sente uma nova primavera, com liberdade, amplidão e alegria de espírito”.

 Refeita, amparada e inundada pelo sentimento de alegria, a alma “dedica sua voz a Deus, com um novo cântico de júbilo, e juntamente com Deus, que a estimula...O Esposo dá a ela sua voz, para que ela e ele a dediquem em uníssono a Deus”. É que o esposo deseja ardentemente que “a alma erga sua voz espiritual em júbilo a Ele. Para ser perfeito, o hino de júbilo é doce para Deus e para si mesma, embora não se aproxime do cântico novo da eterna glória (Cântico Espiritual de S. João da Cruz estrofe 38,39).

....O caminho da alma foi-nos revelado numa sequência variada de imagens: pudemos lançar um olhar aos desígnios secretos de Deus, que desde a aurora da criação traçara este caminho. Vimos que o caminho secreto da alma está entrelaçado com os mistérios da Fé.

 Desde toda a eternidade a alma foi predestinada a participar como esposa do Filho de Deus, da vida trinitária, da Divindade. Para desposá-la, o Verbo Eterno revestiu-se com a natureza humana: Deus e a alma devem constituir dois em uma só carne. Mas a carne do homem pecador está revoltada contra o espírito; por isso, toda a vida carnal é feita de luta e sofrimento. 

Estes atingiram o Filho do Homem mais que qualquer outro da humanidade, e, entre os homens, são mais atingidos os que mais intimamente estão ligados a Cristo. Jesus Cristo é solícito para com a alma e entrega sua própria vida em favor da vida da alma, na luta contra os inimigos seus e dela. Ele afugenta Satanás e todos os espíritos malignos onde quer que os encontre pessoalmente, e arranca as almas da sua tirania.

 Ele revela cruamente a malícia humana onde quer que se oponha, cega, disfarçada e obstinada. A todos que reconhecem seu pecado, confessando-o humildemente e desejando intimamente ser libertados, Jesus Cristo estende a mão, exigindo-lhes, entretanto, imitação incondicional e renúncia a tudo quanto se opõe ao seu Espírito.

 Isso levanta contra ele o furor do inferno e o ódio e a malícia da mesquinhez humana, a ponto de investirem contra ele, preparando-lhe a morte de cruz. Aqui se paga à Justiça divina, pelos tormentos extremos do corpo e da alma e principalmente pela noite do abandono de Deus, o preço das dívidas acumuladas pelos pecados de todos os tempos.

 Ele abre as comportas da misericórdia do Pai para todos os que têm a coragem de abraçar a cruz do Crucificado. Sobre estes, ele derrama sua luz e sua vida, que são divinas e que destroem incessantemente tudo quanto se lhes opõe e por isso dão, a princípio, a sensação de noite e de morte..........

O desmoronamento progressivo da natureza humana dá maior espaço à luz sobrenatural e à vida divina a qual se apodera das energias naturais e as transforma em energias divinizadas e espiritualizadas.

 Desta forma, realiza-se no cristão uma nova encarnação de Cristo, equivalente a uma ressurreição da morte na Cruz. O homem novo traz no corpo os estigmas do Cristo: são a lembrança da miséria dos pecados de onde foi ressuscitado para a vida bem-aventurada, e a lembrança do preço que isso custou. Resta-lhe a ânsia pela plenitude da vida, até que a morte física lhe permita entrar na luz sem sombra.

Assim entendida, a união nupcial da alma com Deus é o fim para o qual a alma foi criada, e é uma união adquirida pelo preço da cruz, realizada na cruz e selada, para todo o sempre com a cruz.”

O trecho é um pouco longo mas se reler com calma vai ver que é um resumo, uma síntese da trajetória do homem desde a criação até a consumação na eternidade.

Edith Stein
Essa íntima união com Deus não é só para as almas prediletas, almas contemplativas ou almas a Deus consagrada, mas é para todo batizado, ou melhor para todo aquele que veio a este mundo. A estas grandezas somos chamados!



Uma santa semana e uma Feliz Páscoa!

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