Queridos irmãos e irmãs
No dia 28 de março deste ano o Santo Padre Francisco enviou
uma carta ao Bispo de Ávila Mons. Jesús Garcia Burilio, na qual mostra o seu
amor pela Santa Teresa de Jesus. Transcrevemos alguns trechos da mesma:
Querido irmão
Hoje eu coração está em Ávila, onde há 500 anos nasceu
Teresa de Jesus. Mas não posso esquecer os vários outros lugares que preservam
sua memória, pelos quais passou com suas sandálias gastas percorrendo estradas
poeirentas: Medina Del Campo, Malagon, Valladolid, Duruelo, Toledo, Pastrana,
Salamanca, Segóvia, Beas de Segura, Sevilha, Caravaca de La Cruz, Villanueva de
La Sória, Granada, Burgos e Alba de Tormes. Além disso, a pegada desta ilustre
Reformadora continua viva nas centenas de conventos carmelitas espalhados por
todo o mundo. Seus filhos e filhas no Carmelo mantêm acesa a luz renovadora que
a Santa acendeu para o bem de toda a Igreja.
A esta insigne “mestra de espirituais”, coube a meu
predecessor, o beato Paulo VI, o inédito gesto de conferir o título de Doutora
da Igreja. A primeira mulher Doutora da Igreja! Ela nos mostra como viver o
segredo de Deus, que adentrou “por meio da experiência, vivida na santidade de
uma vida consagrada à contemplação e, ao mesmo tempo, dedicada à ação,
experiência sofrida e tamém gozada, na efusão de extraordinários carismas
espirituais” (Homilia na Declaração do Doutorado de Santa Teresa, 27 de
setembro de l970).
Nada disto perdeu sua vigência.
Contemplação e ação seguem
sendo seu legado para os cristãos do século XXI. Por isso, como gostaria que
pudéssemos falar com ela, tê-la a frente e perguntar-lhe várias coisas. Séculos
depois, seu testemunho e suas palavras nos encorajam a entrarmos em nosso
castelo interior e a sair fora, “a guardarem-se as costas uns aos outros...para
irem adiante” (Vida 7,22). Sim, entrar em Deus e sair com seu amor para servir
os irmãos. Para isto “convida o Senhor a todos” (Caminho 19,15), seja qual for
nossa condição e lugar que ocupemos na Igreja (C 5,5).
Como ser contemplativos na ação? Que conselhos nos daria
você, Teresa, hoje?
No momento presente, seus primeiros interlocutores seriam os religiosos e as religiosas, aos
quais a Santa animaria a se comprometerem sem rodeios: “Não, minhas irmãs, não
é tempo de tratar com Deus negócios de pouca importância” (C 1,5), como disse
às suas monjas. Ela hoje nos tiraria da autorreferencialidade e nos
impulsionaria a sermos consagrados “em saída”, com um modo de vida austero, sem
“franzimentos” nem amarguras: “Assim não vos acanheis porque, se a alma se
começa a encolher, é coisa muito má para tudo quanto é bem” (C 41,5). Neste Ano
da Vida Consagrada, nos ensina a ir ao essencial, a não deixar a Cristo as
migalhas de nosso tempo ou de nossa alma, mas a levar-lhe tudo nesse amistoso
colóquio com o Senhor, “estando muitas vezes tratando a sós, com quem sabemos
que nos ama” (V 8,5).
E sobre os
sacerdotes? Santa Teresa diria abertamente: não os esqueçam em sua oração.
Sabemos bem que foram para ela apoio, luz e guia. Consciente como era da importância
da pregação para a fé das pessoas mais simples, valorizava os presbíteros e,
“se via algum pregar com espírito e bem, cobrava-lhe particular afeição” (V
812). Mas acima de tudo, a Santa orava por eles e pedia a suas monjas que
estivessem “todas ocupadas em oração pelos defensores da Igreja e pregadores e
letrados que a defendem” (C 1,2). Que bonito seria se a imitássemos rezando
infatigavelmente pelos ministros do Evangelho, para que não se apague neles o
entusiasmo nem o fogo do amor divino e se entreguem por inteiro a Cristo e a
sua Igreja, de modo que sejam para os demais bússola, bálsamo, estímulo e
consolo, como o foram para ela. Que a prece e a proximidade dos Carmelos
acompanhem sempre os sacerdotes no exercício do ministério pastoral.
E aos leigos? E às
famílias que neste ano estão tão presentes no coração da Igreja? Teresa foi
filha de pais piedosos e honrados. A eles dedica apenas algumas palavras
elogiosas no início do Livro da Vida: “Ter pais virtuosos e tementes a Deus – se
eu não fosse tão ruim – me bastaria, com o que o Senhor me favorecia, para ser
boa” (V 1,1). Na juventude, quando ainda era “inimiguíssima de ser monja” (V
2,8), foi educada para seguir o caminho do matrimônio, como as moças de sua
idade. Foram muitos e bons os leigos com qe a Santa tratou e que auxiliaram
suas fundações: Francisco de Salcedo, o “cavaleiro santo”, sua amiga Guiomar de
Ulloa ou Antonio Gaytán, a quem escreve louvando seu estado e pedindo que se
alegre por ele (Carta 386,2).
Necessitamos hoje homens e mulheres como eles, que tenham amor pela Igreja, que
colaborem com ela em seu apostolado, que não sejam somente destinatários do
Evangelho mas discípulos e missionários da Palavra divina. Há ambientes em que
somente eles podem levar a mensagem da salvação como fermento de uma sociedade
mais justa e solidária. Santa Teresa continua convidando os cristãos de hoje a
se somarem à causa do Reino de Deus e formarem lares em que Cristo seja a rocha
na qual se apóiem e a meta que coroe seus anseios.
E aos jovens? Mulher
inquieta, viveu sua juventude com a alegria própria desta etapa da vida. Nunca
perdeu esse espírito jovial que ficou refletido em tantas máximas que retratam
suas qualidades e seu espírito empreendedor. Estava convencida de que há de se
ter “uma santa ousadia, pois Deus ajuda aos fortes” (C 16,12). Essa confiança
em Deus a empurrava sempre para frente, sem poupar sacrifícios nem pensar em si
mesma, apenas amando o próximo: “São necessários amigos fortes de Deus para
sustentar os fracos” (V 15,5). Assim demonstrou que medo e juventude não se
coadunam. Que o exemplo da Santa infunda coragem às novas gerações, para que
não lhes tolha “a alma e o ânimo” (C 41,8). Especialmente quando descobrem que
vale a pena seguir Cristo por toda a vida, como fizeram aquelas primeiras
monjas carmelitas descalças, que, em meio de não poucas contrariedades, abriram
as portas do primeiro “palomarcico”, em 24 de agosto de 1562. Pela mão de
Teresa, os jovens terão valor para fugir da mediocridade e tibieza e hospedar
em sua alma grandes desejos, nobres aspirações dignas das melhores causas.
Parece-me ouvi-la agora lhes advertindo com seu gracejo que se não olham para o
alto serão como “sapos” que caminham devagar e rasteiramente, e se contentariam
em “apenas caçar lagartixas” dando importância a minúcias no lugar das coisas
que realmente contam (V 13,3).
E de modo especial, rogo a Santa Teresa que nos conceda a
devoção e o fervor que ela tinha a São José. Muito bem faria aos que passam
pela prova da dor, enfermidade, solidão, àqueles qe se sentem agoniados ou
entristecidos recorrer a este insigne Patriarca com o amor e a confiança com
que o fazia a Santa. Confesso, querido irmão, que frequentemente falo a São
José de minhas preocupações e problemas e, como ela, “não me recordo até agora
de lhe ter suplicado coisa que tenha deixado de fazer...A outros santos parece
ter dado o Senhor graça para socorrerem numa necessidade; deste glorioso Santo
tenho experiência que socorre em todas. O Senhor nos quer dar a entender que,
assim como lhe foi sujeito na terra – pois como tinha nome de pai, embora sendo
aio, O podia mandar – assim no Céu faz quanto Lhe pede” (V 6,6). “Glorioso
patriarca São José, cujo poder sabe tornar possíveis as coisas
impossíveis...Mostrai-me que vossa bondade é tão grande como o vosso poder” diz
uma antiga oração inspirada na experiência da Santa.”
Uma boa semana a todos!