sábado, 30 de maio de 2015

ELEVAÇÃO À SANTÍSSIMA TRINDADE



Queridos irmãos e irmãs,

Amanhã, domingo da Santíssima Trindade, gostaria de partilhar com vocês essa belíssima oração da Beata Elisabete da Trindade, carmelita. Foi escrita por ela em 21 de novembro de 1904.

“Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajuda-me a esquecer-me inteiramente, para me fixar em Vós, imóvel e pacífica como se a minha alma estivesse já na Eternidade!

Que nada possa alterar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me faça penetrar mais na profundeza do Vosso Mistério.

Pacificai a minha alma, fazei nela o vosso Céu, a vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu nunca Vos deixe só, mas que esteja recolhida, completamente acordada na minha Fé, em adoração, entregue exclusivamente à vossa ação criadora.

Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, eu quisera ser uma esposa para o vosso Coração, quisera cobrir-Vos de glória, amar-Vos até morrer de amor! Mas sinto a minha impotência e peço-Vos para me revestirdes de Vós mesmo, para identificardes a minha alma com todos os movimentos da vossa alma, para me submergirdes, me invadirdes. Substitui-me por Vós para que a minha vida não seja mais do que uma irradiação da vossa. Vinde a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador.

Ó Verbo Eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Vos quero tornar-me perfeitamente dócil, para aprender tudo de Vós; quero viver sempre na Vossa presença e morar na Vossa luz infinita através de todas as noites, de todas as securas, de todas as fragilidades.

Ó meu Astro Amado, fascinai-me para que eu não possa sair mais da vossa divina irradiação.
Ó Fogo Devorador, Espírito de Amor, descei a mim para que se faça na minha alma como que uma encarnação do Verbo, que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renova todo o seu Mistério.

E Vós ó Pai, inclinai-vos sobre a vossa pobre e débil criatura, cobri-a com a vossa sombra, não vendo nela senão o Bem-Amado no qual pusestes todas as vossas complacências.

Ó minha Trindade! Meu Tudo, minha Beatitude, Solidão Infinita, Imensidade em que me perco, entrego-me a Vós como uma presa; ocultai-Vos em mim para que eu me perca em Vós, enquanto espero ir contemplar à Vossa luz o abismo das Vossas grandezas”.

(Beata Elisabeth da Trindade, carmelita). 

Uma boa semana a todos!

sábado, 16 de maio de 2015

SEU PAI, SUA MÃE SÃO VELHINHOS?

Queridos irmãos e irmãs

O Papa Francisco tem um amor especial pelas pessoas idosas, isso bem antes de ser Papa. Na audiência de 04 de março deste ano ele nota que a sociedade atual não está preparada para reconhecer o papel e a dignidade das pessoas idosas; "aliás, tende a considerá-las como um peso para a comunidade, principalmente quando se trata de pessoas doentes, e portanto tende a "descartá-las".
"A Igreja não pode e não quer conformar-se com uma mentalidade de intolerância e muito menos de indiferença e de desprezo, em relação à velhice. Ele lembrou as palavras de Bento XVI "onde não há honra pelos idosos não há porvir para os jovens". 

O Bispo Carrasco de Paula diz numa entrevista publicada pelo jornal "L'Osservatore Romano" de 05 de março: A Academia para a Vida está muito atenta aos anciãos, à qualidade da sua vida, enquanto procura maneiras de estimular a sociedade para a plena assunção de responsabilidade a seu respeito considerando-as, como são, pessoas dotadas de plena dignidade e de uma sabedoria amadurecida através das numerosas experiências vividas.

O entrevistador indaga: O que significa qualidade de vida?

 Ele responde que quando se fala de qualidade da vida não se refere à quantidade de vida a viver.....Trata-se de levar uma vida de qualidade, no sentido de uma existência que seja frutuosa. Os idosos devem ser postos em condições de poder continuar a oferecer a sua contribuição inestimável.
Os anciãos são pessoas que permanecem tais, com toda a sua dignidade, até ao último instante da sua vida. Quanto a nós, como Igreja e como sociedade, devemos ser capazes de os acompanhar, de estar ao seu lado sobretudo na última fase da existência.

E os idosos que sofrem? Numerosos anciãos começam a sofrer tempo antes que sobrevenha a enfermidade. Sofrem devido às violências que padecem de maneira cada vez mais frequente, sofrem por causa do desprezo do qual são objeto; sofrem porque são abandonados. Mas é aqui é que entra em jogo o papel da família. Na medida do possível, o idoso deve ser acompanhado pela família, à qual se entregou durante a sua vida, que agora é chamada a estar ao seu lado na fase final da existência.
Quando doente, é na fase terminal que necessita de mais amor, carinho e proximidade.

"Trata-se do momento e que se apresentam insinuações inspiradas pela cultura da morte, desde há muito anos denunciada pela Igreja, que procura camuflar a eutanásia com uma morte presumivelmente doce. A única morte doce é a natural. Trata-se do cumprimento de uma vida que se conclui no meio de pessoas que amam, que cuidam do sofrimento, conscientes da inutilidade de continuar a administrar medicamentos que já se revelaram ineficazes ou de intervir com outros meios igualmente inúteis. E que procuram apenas aliviar o padecimento com cuidados paliativos sem fazer faltar, além do carinho, também a necessária alimentação, tanto do corpo como da alma. A eutanásia não alivia os sofrimentos mas, ao contrário, antecipa a morte, provocando-a."

Tivemos a oportunidade de acompanhar semanas atrás as exéquias do Arcebispo emérito de Belém, o querido Dom Vicente Joaquim Zico. Ele soube envelhecer com dignidade e quis morrer perto das pessoas queridas na sua residência, em lugar da UTI longe do carinho, amor e proximidade dos seus amigos.

Você já pensou neste assunto? Como envelhecer? Como cuidar das pessoas idosas?

Uma boa semana para todos.

sábado, 9 de maio de 2015

O QUE É QUE A IGREJA E A SOCIEDADE ESPERAM DAS MONJAS DE CLAUSURA?

Queridos irmãos e irmãs
A Paz de Cristo Ressuscitado!

Hoje quero partilhar com vocês o que o Santo Padre João Paulo II disse às monjas contemplativas na sua visita a Romania, em 1986.

O que é que a vida contemplativa dá à Igreja e à sociedade? A pergunta pode ser proposta de outra maneira: O que é que a Igreja e a Sociedade esperam das monjas de clausura?

O segredo da vossa vida está escondido no segredo do Cristo. Como Ele, vós sois consagradas ao amor e à glória do Pai. Para responder a este desígnio, vós olhais constantemente Aquele que foi crucificado, vós vos cercais de silencio na solidão, viveis na oração, vos nutris de penitência (Perfectae caritatis,7). Radicada em Cristo e conformada a Ele, Cordeiro imolado, a vossa vida é testemunho do seguimento de Jesus, dom de amor e sacrifício de louvor.

Eis diletas Irmãs, aquilo que de vós espera a Igreja e a humanidade: que sejais fermento do interior, portadora de calores essenciais, sinais visíveis de Deus no mundo.


Por isto o Concílio Vaticano II reconhece ser uma parte determinante a vida contemplativa na edificação do Reino de Deus (Ad Gentes 18). Indica-lhe, outrossim, um lugar bastante elevado no Corpo Místico de Cristo (P.C.,7).

A fim de corresponder a esta sublime vocação,  vos coloca “no coração da Igreja” (Venite Seorsum III), uma só coisa vos é solicitada: que vos ocupeis unicamente de Deus (Perf.Car.7), testemunhar o primado do amor, doando-vos a Deus sumamente amado (L.G.44). E aqui reside a eficácia da vossa presença, a força da vossa atividade apostólica: na radicalidade evangélica da vossa própria vida. Também quando em vossos mosteiros ofereceis aos fiéis a possibilidade de orar ou de se recolher, estes devem sentir-se um sinal visível da presença de Deus.

Exigente e forte é o preceito de São Bento: “Nada antepor a Cristo” (Regra 72) a fim de que se progrida com o coração dilatado pela fé e depois, se corra impulsionados pela indizível suavidade do amor. Como é incisivo e profundo Santo Agostinho, quando apresenta a caridade como força de assimilação, pela qual somos aquilo que amamos: “estando na terra já está nos céu, se amas a Deus”  e “amando habitamos com o coração naquilo que amamos”. E como é intenso e exclusivo o que sugere Santa Clara: “Alegra-te no Senhor, sempre. Não permitir que alguma sombra de tristeza envolva o coração. Coloca o teu coração naquele que é a figura da substância e transforma-te inteiramente por meio da contemplação”.

São Domingos, como podemos ler na História dos Pregadores “pedia a Deus uma caridade ardente e desejava ser flagelado, feito em pedaços e morrer pela fé de Cristo”.

E Santa Teresa, mulher forte e amorosa, sem incertezas, diz a si mesma e às filhas: “Caminhemos juntos, Senhor: seguirei por onde fordes, e por toda a parte por onde passardes, passarei eu também (CP 26).

Sabei que as vossas preces e à vossa santidade de vida é confiada, de modo particular, esta generosa terra para a qual tendes deveres e responsabilidade. Com a força da oração contribuí para sustentar a Igreja local e alegrai-a com os frutos da fé amorosa. Sois chamadas a testemunhar aqui o primado da caridade de Deus. Como é sabido, testemunha significa mártir, e a Igreja é fiel ao martírio, no testemunho. Deveis sentir-vos, vós também, participantes desta missão, sobretudo quando a solidão ou a aridez, ou a sensação de inutilidade vos fazem sofrer.

Diletas irmãs, eu vos confio à Virgem Maria; com Ela sabereis ser assíduas e concordes na oração e vos enchereis de alegria e da força da Ressurreição; com Ela, as vossas comunidades serão centros de fé, de esperança, onde reina soberana a caridade, de tal modo que a vossa presença grite ao mundo que vos rodeia que Deus vive, que Deus é amor, que Ele ainda cativa os corações e que somente Ele dá valor a cada coisa. A Virgem Maria faça viver Cristo em vós e por meio Dele vos torneis mães de almas”.

Uma boa semana a todos!

sábado, 2 de maio de 2015

SANTA TERESA DE JESUS SEGUNDO O PAPA FRANCISCO

Queridos irmãos e irmãs

No dia 28 de março deste ano o Santo Padre Francisco enviou uma carta ao Bispo de Ávila Mons. Jesús Garcia Burilio, na qual mostra o seu amor pela Santa Teresa de Jesus. Transcrevemos alguns trechos da mesma:

Querido irmão

Hoje eu coração está em Ávila, onde há 500 anos nasceu Teresa de Jesus. Mas não posso esquecer os vários outros lugares que preservam sua memória, pelos quais passou com suas sandálias gastas percorrendo estradas poeirentas: Medina Del Campo, Malagon, Valladolid, Duruelo, Toledo, Pastrana, Salamanca, Segóvia, Beas de Segura, Sevilha, Caravaca de La Cruz, Villanueva de La Sória, Granada, Burgos e Alba de Tormes. Além disso, a pegada desta ilustre Reformadora continua viva nas centenas de conventos carmelitas espalhados por todo o mundo. Seus filhos e filhas no Carmelo mantêm acesa a luz renovadora que a Santa acendeu para o bem de toda a Igreja.

A esta insigne “mestra de espirituais”, coube a meu predecessor, o beato Paulo VI, o inédito gesto de conferir o título de Doutora da Igreja. A primeira mulher Doutora da Igreja! Ela nos mostra como viver o segredo de Deus, que adentrou “por meio da experiência, vivida na santidade de uma vida consagrada à contemplação e, ao mesmo tempo, dedicada à ação, experiência sofrida e tamém gozada, na efusão de extraordinários carismas espirituais” (Homilia na Declaração do Doutorado de Santa Teresa, 27 de setembro de l970).

Nada disto perdeu sua vigência. Contemplação e ação seguem sendo seu legado para os cristãos do século XXI. Por isso, como gostaria que pudéssemos falar com ela, tê-la a frente e perguntar-lhe várias coisas. Séculos depois, seu testemunho e suas palavras nos encorajam a entrarmos em nosso castelo interior e a sair fora, “a guardarem-se as costas uns aos outros...para irem adiante” (Vida 7,22). Sim, entrar em Deus e sair com seu amor para servir os irmãos. Para isto “convida o Senhor a todos” (Caminho 19,15), seja qual for nossa condição e lugar que ocupemos na Igreja (C 5,5).

Como ser contemplativos na ação? Que conselhos nos daria você, Teresa, hoje?

No momento presente, seus primeiros interlocutores seriam os religiosos e as religiosas, aos quais a Santa animaria a se comprometerem sem rodeios: “Não, minhas irmãs, não é tempo de tratar com Deus negócios de pouca importância” (C 1,5), como disse às suas monjas. Ela hoje nos tiraria da autorreferencialidade e nos impulsionaria a sermos consagrados “em saída”, com um modo de vida austero, sem “franzimentos” nem amarguras: “Assim não vos acanheis porque, se a alma se começa a encolher, é coisa muito má para tudo quanto é bem” (C 41,5). Neste Ano da Vida Consagrada, nos ensina a ir ao essencial, a não deixar a Cristo as migalhas de nosso tempo ou de nossa alma, mas a levar-lhe tudo nesse amistoso colóquio com o Senhor, “estando muitas vezes tratando a sós, com quem sabemos que nos ama” (V 8,5).

E sobre os sacerdotes? Santa Teresa diria abertamente: não os esqueçam em sua oração. Sabemos bem que foram para ela apoio, luz e guia. Consciente como era da importância da pregação para a fé das pessoas mais simples, valorizava os presbíteros e, “se via algum pregar com espírito e bem, cobrava-lhe particular afeição” (V 812). Mas acima de tudo, a Santa orava por eles e pedia a suas monjas que estivessem “todas ocupadas em oração pelos defensores da Igreja e pregadores e letrados que a defendem” (C 1,2). Que bonito seria se a imitássemos rezando infatigavelmente pelos ministros do Evangelho, para que não se apague neles o entusiasmo nem o fogo do amor divino e se entreguem por inteiro a Cristo e a sua Igreja, de modo que sejam para os demais bússola, bálsamo, estímulo e consolo, como o foram para ela. Que a prece e a proximidade dos Carmelos acompanhem sempre os sacerdotes no exercício do ministério pastoral.

E aos leigos? E às famílias que neste ano estão tão presentes no coração da Igreja? Teresa foi filha de pais piedosos e honrados. A eles dedica apenas algumas palavras elogiosas no início do Livro da Vida: “Ter pais virtuosos e tementes a Deus – se eu não fosse tão ruim – me bastaria, com o que o Senhor me favorecia, para ser boa” (V 1,1). Na juventude, quando ainda era “inimiguíssima de ser monja” (V 2,8), foi educada para seguir o caminho do matrimônio, como as moças de sua idade. Foram muitos e bons os leigos com qe a Santa tratou e que auxiliaram suas fundações: Francisco de Salcedo, o “cavaleiro santo”, sua amiga Guiomar de Ulloa ou Antonio Gaytán, a quem escreve louvando seu estado e pedindo que se alegre  por ele (Carta 386,2). Necessitamos hoje homens e mulheres como eles, que tenham amor pela Igreja, que colaborem com ela em seu apostolado, que não sejam somente destinatários do Evangelho mas discípulos e missionários da Palavra divina. Há ambientes em que somente eles podem levar a mensagem da salvação como fermento de uma sociedade mais justa e solidária. Santa Teresa continua convidando os cristãos de hoje a se somarem à causa do Reino de Deus e formarem lares em que Cristo seja a rocha na qual se apóiem e a meta que coroe seus anseios.

E aos jovens? Mulher inquieta, viveu sua juventude com a alegria própria desta etapa da vida. Nunca perdeu esse espírito jovial que ficou refletido em tantas máximas que retratam suas qualidades e seu espírito empreendedor. Estava convencida de que há de se ter “uma santa ousadia, pois Deus ajuda aos fortes” (C 16,12). Essa confiança em Deus a empurrava sempre para frente, sem poupar sacrifícios nem pensar em si mesma, apenas amando o próximo: “São necessários amigos fortes de Deus para sustentar os fracos” (V 15,5). Assim demonstrou que medo e juventude não se coadunam. Que o exemplo da Santa infunda coragem às novas gerações, para que não lhes tolha “a alma e o ânimo” (C 41,8). Especialmente quando descobrem que vale a pena seguir Cristo por toda a vida, como fizeram aquelas primeiras monjas carmelitas descalças, que, em meio de não poucas contrariedades, abriram as portas do primeiro “palomarcico”, em 24 de agosto de 1562. Pela mão de Teresa, os jovens terão valor para fugir da mediocridade e tibieza e hospedar em sua alma grandes desejos, nobres aspirações dignas das melhores causas. Parece-me ouvi-la agora lhes advertindo com seu gracejo que se não olham para o alto serão como “sapos” que caminham devagar e rasteiramente, e se contentariam em “apenas caçar lagartixas” dando importância a minúcias no lugar das coisas que realmente contam (V 13,3).

E de modo especial, rogo a Santa Teresa que nos conceda a devoção e o fervor que ela tinha a São José. Muito bem faria aos que passam pela prova da dor, enfermidade, solidão, àqueles qe se sentem agoniados ou entristecidos recorrer a este insigne Patriarca com o amor e a confiança com que o fazia a Santa. Confesso, querido irmão, que frequentemente falo a São José de minhas preocupações e problemas e, como ela, “não me recordo até agora de lhe ter suplicado coisa que tenha deixado de fazer...A outros santos parece ter dado o Senhor graça para socorrerem numa necessidade; deste glorioso Santo tenho experiência que socorre em todas. O Senhor nos quer dar a entender que, assim como lhe foi sujeito na terra – pois como tinha nome de pai, embora sendo aio, O podia mandar – assim no Céu faz quanto Lhe pede” (V 6,6). “Glorioso patriarca São José, cujo poder sabe tornar possíveis as coisas impossíveis...Mostrai-me que vossa bondade é tão grande como o vosso poder” diz uma antiga oração inspirada na experiência da Santa.”

Uma boa semana a todos!