Queridos irmãos e irmãs
O edifício da oração que Santa Teresa quer elevar repousa
como já vimos sobre fundamentos muito sólidos: as virtudes que ela nos propõe
não são ordinárias e sim profundas, perfeitas, heroicas. Teresa conhece a
variedade das almas: algumas caminham como “pintainhos, com pés embaraçados”,
outras ao contrário, “levantam seu voo como águias”. A Santa quer que suas
filhas não sejam pintainhos, mas que se lancem para os cumes como as águias.
Se a alma chega a se alçar da terra, por um perfeito
desprendimento, não será justo que também sejam mergulhadas na luz da amorosa
contemplação?
O desprendimento liberta, esvazia o coração do amor-próprio;
a oração o enche do amor divino. Diz as suas filhas (todos podem considerar-se
“filhos e filhas de Teresa): “Fazei oração mental...aquelas que não o
conseguirem dedicar-se-ão à oração vocal, à leitura e colóquio com Deus...Não
deixeis a hora de oração”...
Para Santa Teresa, com efeito, a oração é, antes de tudo
um exercício de amor. Muitas vezes diz claramente que consiste “não em pensar
muito, mas em amar muito”...Diz ainda: “A oração é um comércio de amizade, onde
nos entretemos sempre intimamente com Quem sabemos que nos ama”. Estar com
Deus, falar-lhe intimamente, eis para Santa Teresa toda substância da oração
mental. Na oração, a vontade é a rainha, porque dela procede o amor; fazer
oração é dizer a nosso Senhor que o amamos e que queremos efetivamente amá-Lo.
Um primeiro ponto muito importante desde o princípio da
oração, é o de se por bem em presença de Deus; em seguida tudo se reduz a um
amoroso colóquio com o Senhor: “Não vos peço fixar vosso pensamente nele, nem
fazer numerosos raciocínios ou altas e sábias considerações. O que vos peço é
pousar sobre Ele o olhar de vossa alma...considerai-o atado à coluna, cheio de
dores, todo o corpo flagelado, pelo grande amor que vos tem. Ele voltará para
vós seus olhos tão belos e compassivos, cheios de lágrimas. Esquecerá seus
sofrimentos para vos consolar dos vossos, para que...volvais a cabeça para Ele
a fim de O contemplar. Vendo-o em tal estado, vosso coração se
enternecerá...ser-vos-á uma alegria entreter vos com Ele, não com orações
estudadas, mas com a linguagem do coração:
“ó
MEU Senhor e meu bem-amado, como estais reduzido a tal estado? Como é possível
que admitais em vossa presença, em vossa companhia uma mendiga como eu? Vejo em vossa face que vos consolais de
me ver perto de vós...E já que consentis, Senhor, em suportar tantos
sofrimentos por amor de mim, que é que eu suporto por vós?...Caminhemos juntos,
Senhor, por onde fordes eu também irei; por onde passardes hei de passar”
(Caminho da Perfeição, cap. 26, 3-6).
Santa Teresa deseja imprimir no espírito de suas filhas
esta grande e consoladora verdade que é a presença real de Deus em nós: “Há
dentro de nós alguma coisa incomparavelmente mais preciosa que o que vemos fora
pelos sentidos. Não imaginemos que todo nosso interior é vazio! E acrescenta:
“Praza a Deu, não sejam só as mulheres a ignorar esta verdade (C.P. 28,10).
Já que Deus habita realmente em nós, a Santa ensina a nos
recolhermos no pequeno céu interior de nossa alma e a conversar com Ele, muito
intimamente: “Tratai com Ele como com um pai, um irmão, um mestre, um esposo,
umas vezes sob um aspecto, ora sob outro. Não sejais tolas de nada lhe pedir!
Desde que é vosso esposo, deve manter a palavra e tratar-vos como suas esposas”
(C.P. 28).
A alma, recolhida em Deus, se contenta habitualmente com
a atitude de um simples olhar amoroso antes que com profundos raciocínios.
“Ali, o divino Mestre virá mais prontamente instruí-la e
dar-lhe a oração de quietação...Aquelas que, dentre vós puderem se encerrar
assim no pequeno céu de sua alma...seguirão, creiam-me, uma via excelente;
chegarão certamente a beber, na fonte de água viva” (CP 28)
Uma boa semana a todos.
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