Queridos irmãos e irmãs
No próximo domingo teremos no Carmelo um encontro com jovens
vocacionadas, ou melhor que estão no processo de discernimento vocacional.
Pensando sobre o assunto se entrevistássemos cada sacerdote,
religiosa ou consagrada sobre como foi o seu chamado à vida religiosa,
sacerdotal ou de consagração à Deus, veríamos que cada um contaria uma história
diferente.
Deus chama quem quer, onde quer e como quer, e não se
repete.
Mas é belo ver a obra de Deus em cada alma que Ele chama e
procura, antes mesmo desta alma começar a procurá-Lo.
Vamos ver resumidamente como foi o processo vocacional da santa fundadora das Carmelitas Descalças –
Santa Teresa de Jesus.
A gente encontra o relato de sua vocação no Livro da
Vida, capítulos 3, 4...
Uma vez, refletindo sobre suas motivações vocacionais ela vê
que eram um tanto egoístas:
- livrar-se do purgatório
- “Também tinha uma grande amiga em um outro mosteiro. Isto
era motivo para se tivesse que ser freira, só o ser onde ela estava. Nisto
olhava mais o gosto da minha sensibilidade e vaidade do que ao bem que me ia à
alma” (V 3,2);
- Temia casar-se (V 3,2
-“Embora a minha vontade não acabava de se inclinar a ser
freira, vi, no entanto, que era o melhor e mais seguro estado e assim, pouco a
pouco determinei-me a forçar-me para o tomar” (V 3,5)
Ela conta muitas outras coisas:
Quando seu pai a colocou no mosteiro das Agostinianas para
estudar, ali ficou um ano e meio e diz ela que melhorou muito na sua conduta. “Comecei
a rezar muitas orações vocais e a procurar que todas me encomendassem a Deus,
para que me desse o estado em que O havia de servir. Mas no entanto, desejava
não fosse o de freira. Este, não fosse Deus servido de mo dar, embora também
temesse casar-me” (V 3,2)
Terminado o tempo que ali esteve, “já tinha mais afeição a
ser freira, embora não naquela casa...” “Esses bons pensamentos de ser freira,
vinham-me algumas vezes e logo se afastavam e não podia persuadir-me a sê-lo”.
Saindo do mosteiro e indo para a casa de um tio, este tinha
bons livros que ela dedicou-se a ler.
“Oh, valha-me Deus, por que meios me andava Sua Majestade
dispondo para o estado em que Se quis servir de mim! Sem o querer, forçou-me a
eu me fazer força! Bendito seja para sempre” (V 3,4).
“Ali, na casa de meu tio, fui entendendo a verdade tal como
em pequena: que tudo era nada, a vaidade do mundo, como acaba em breve, e a
temer, se tivesse morrido, de ter ido para o inferno. E, embora minha vontade
não acabava de se inclinar a ser freira, vi, no entanto que era o melhor e mais
seguro estado e assim, pouco a pouco determinei-me a forçar-me para o tomar” (V
3, 5)
“Nesta batalha estive 3 meses, forçando-me a mim mesma com
esta razão: os trabalhos e pena de ser freira não podiam ser maiores que os do
purgatório e eu bem havia merecido o inferno. Não era, pois, muito passar o que
ainda vivesse como num purgatório: depois iria direita ao Céu, que era este o
meu desejo” (V 3,6)
“Neste movimento de tomar estado, mais me movia – me parece –
um temor servil que o amor. Punha-me o demônio que não poderia sofrer os
trabalhos da Religião por ser tão amimada. Disto me defendia eu com os
trabalhos que passou Cristo: não era muito que eu passasse alguns por Ele. Ele
me ajudaria a levá-los...passei grandes tentações nestes dias” )V 3,6).
Finalmente decidiu-se a falar com seu pai sobre seu desejo
de ser monja. Seu pai lhe respondeu que só quando ele morresse. Resolveu então
fugir de casa e ir para o mosteiro onde estava sua amiga.
Na sua última determinação já estava de modo que iria para
qualquer convento onde pensasse servir mais a Deus ....”Recordo-me...que
quando sai de casa de meu pai foi tal a aflição que eu não creio será maior
quando eu morrer. Parece que cada osso se me apartava de per si, pois como não tinha
amor de Deus a contrabalançar o amor de pai e parentes, fazia-me tudo uma força
tão grande que, se o Senhor não me ajudar, não teriam bastado as minhas
considerações para ir por diante. Aqui deu-me o Senhor ânimo contra mim, de
maneira que o pus por obra
.” Recebendo o Hábito, logo o Senhor me deu a
entender como favorece aos que se esforçam para O servir. ...Na altura deu-me
um tão grande contentamento de ter aquele estado que nunca jamais me faltou até
hoje. Deus mudou a aridez da minha alma numa grandíssima ternura. Davam-me
deleite todas as coisas da Religião. E verdade é andar algumas vezes varrendo a
horas a que antes costumava ocupar em meus regalos e enfeites e, lembrando-me
que estava livre daquilo, me dava um novo gozo que me espantava e não podia
entender por onde me vinha. (V 4, 1-2).
E segue por aí adiante contando o sua alegria de ter
respondido sim ao chamado de Deus.
Uma boa semana a todos.