Queridos irmãos e irmãs
Como estamos na semana em que nos preparamos para a Festa de
Santa Teresinha, na próxima quinta-feira, pensei em partilhar convosco um
trecho da carta de Santa Teresinha à sua Irmã Maria do Sagrado Coração
(Manuscrito B) na qual fala sobre a descoberta da sua vocação: O AMOR. Vejamos:
“Jesus+
Ó minha querida Irmã! Pedis-me que vos dê uma lembrança do
meu retiro, retiro que será talvez o derradeiro...Dada a permissão de nossa
madre, é para mim uma alegria vir entreter-me convosco, que sois duas vezes
minha irmã, convosco que me emprestastes vossa voz, prometendo em meu nome que
não quereria servir senão a Jesus, no momento que não podia falar de própria
boca...Boa e querida Madrinha, quem vos fala esta noite é a criança que
oferecestes ao Senhor, é aquela que vos ama como uma filha sabe amar sua
mãe...Só no Céu conhecereis toda a gratidão que me transborda do coração...Ó
minha Irmã querida! Gostaríeis de escutar os segredos que Jesus confia à vossa
filhinha? Tais segredos, eu o sei, ele vo-los confia, pois sois quem me ensinou
a recolher os ensinamentos divinos. Tentarei todavia, balbuciar algumas
palavras, embora sinta ser impossível para a linguagem humana, reproduzir
coisas que o coração mal pode pressentir...
Não creiais que esteja a nadar em consolações. Oh! Não!
Minha consolação é não ter nenhuma na terra. Sem s mostrar, sem fazer ouvir sua
voz, Jesus instruiu-me em segredo, e não foi por meio de livros, porquanto não
entendo o que leio. Às vezes, porém, alguma palavra me consola, como esta que
colhi ao acaso no final da oração (depois de sentir-me largada no silêncio e na
secura): “Eis o mestre que te dou! Ensinar-te-á tudo o que deves fazer. Quero
levar-te a ler no livro da vida, onde se contem a ciência do Amor” (palavras de
Nosso Senhor à Santa Margarida Maria).
Ciência do amor, oh! Sim, tal palavra ressoa suavemente ao
ouvido de minha alma. Não desejo outra ciência senão esta. Depois de dar por
ela todas as minhas riquezas, acho, como a esposa dos Cantares, que não dei
nada (Ct 8.7)...Compreendo perfeitamente, que só o amor nos pode tornar
agradáveis ao Bom Deus, sendo esse amor o único bem que ambiciono. Jesus se
compraz em apontar-me o único caminho que conduz a essa fornalha divina. O
caminho é o abandono da criancinha que adormece sem temor nos braços de seu
pai...”Todo aquele que é pequenino, venha a mim” (Pr 9,4), disse o Espírito
Santo por boca de Salomão, e o mesmo Espírito de Amor declarou ainda que “com
os pequeninos se usará de misericórdia” (Sb6,7).
Em seu nome revela-nos o profeta Isaías que, no último dia, “o
Senhor conduzirá seu rebanho às pastagens, reunirá os cordeirinhos e os
aconchegará contra o peito” (Is 40,11). E como se todas estas promessas não
bastassem, o mesmo profeta cujo olhar inspirado já se embebia nas profundezas
da eternidade, apregoa em nome do Senhor: “Como uma mãe acaricia seu filhinho,
assim vos consolarei, carregar-vos-ei ao peito, acariciar-vos-ei no regaço”
((Is 66,13,12).
Ó querida Madrinha! Diante de tal linguagem, nada se pode
fazer senão emudecer e chorar de gratidão e amor...Oh! se todas as almas débeis
e imperfeitas sentissem o que sente a mais pequena de todas as almas, a alma de
vossa Teresinha, nenhuma delas se desesperaria de atingir o cume da montanha do
amor, visto que Jesus não exige grandes feitos, mas unicamente o abandono e a
gratidão, pois declarou no Salmo 49: “Não tenho precisão dos bodes de vossos
rebanhos, porque todas as feras das selvas me pertencem, os milhares de animais
que vivem nos montes. Conheço todas as aves das montanhas...Se tiver fome, não
será a ti que o direi, porque minha é a terra e tudo que nela se contem. Serei,
por acaso, obrigado a comer carne de touros e a beber sangue de cabritos? Imolai
a Deus sacrifícios de Louvor e de Ações de Graças”. Eis tudo o que Jesus exige
de nós.”
Paremos por aqui pois já há muito que meditar. Na próxima
semana continuamos a carta.
Uma boa semana a todos.