sábado, 29 de março de 2014

O QUE NOS DEFINE COMO CARMELITAS

Queridos irmãos e irmãs

Partilho convosco uma página do Frei Francisco Sales ocd sobre o Carmelo:

"Para aqueles primeiros eremitas, o Monte Carmelo deixou de ser u ma simples referência geográfica para tornar-se um ideal de vida. Da mesma maneira, no decorrer dos séculos, outros aspectos da vida no Carmelo deixaram de ser simples fatos ou lugares históricos para se transformar em símbolos da nossa própria existência, com os quais nos identificamos e que, sem palavras, falam de nós para o mundo.
Enumeramos aqui doze destas referências simbólicas que nos ajudam a perceber melhor os diversos aspectos do nosso Carisma:

1. Peregrinação: Os primeiros carmelitas são peregrinos, homens inconformados com um modelo de viver a fé que, movidos pelo desejo de seguir a Jesus de forma mais radical, buscam na Terra Santa, o Santo da Terra. Constroem o novo, aventuram-se para garantir a autenticidade de sua fé. O Carmelita é por natureza um inquieto, peregrino, inconformado com a mesmice da fé e da história, aventureiro do Absoluto.

2. Grupo, fraternidade: No Carmelo não há um líder carismático, um fundador no estrito senso da Palavra. Há um grupo que, movido por um desejo comum de fidelidade ao Evangelho, encontra-se e constrói um modo de vida. Para o Carmelita, a razão da vida tem sua fonte numa comunidade e está necessariamente direcionada para a construção da fraternidade.

3. Corações famintos: Nós não conhecemos os nomes dos primeiros Carmelitas, mas podemos conhecer seus corações marcados por uma fome. Foram marcados por uma profunda experiência de conversão, saíram do bulício das cidades para viverem na solidão, iniciando uma vida juntos com o intuito de responderem à fome profunda de seus corações.

4. Monte Carmelo: O caminho carmelitano passa necessariamente pelo monte, com todos os significados que a espiritualidade bíblica a ele atribui. É o lugar da parada dos peregrinos, da subida, da jornada para a comunhão com o Senhor, etc. O Monte confere ao grupo um nome, uma identidade, uma terra. Eles irão levá-lo a todos os recantos por onde se espalham, fazendo de suas habitações outros pequenos carmelos, lugares evocativos da aventura inicial.

5. Fonte de Elias: O ponto de parada dos primeiros Carmelitas é a fonte do Profeta, marco memorial dos grandes feitos de Elias. Ao redor da fonte saciam aquela sede mais intensa e, à imitação de Elias, deixam-se consumir de ardente zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos, anunciando a Boa Nova de Deus aos pobres dos povoados ao redor do Monte Carmelo.

6. Celas: Espaço de solidão e de cultivo da intimidade e do encontro com Deus, chão, no qual se nutre a vida através da lectio divina, lugar de luta contra toda forma de escravidão da pessoa e da conquista da liberdade interior.

7. Oratório: Centro de convergência da vida, lugar da celebração do louvor comum que transforma a vida em sacramento da presença de Deus. Espaço para a celebração da Eucaristia, do encontro com o Cristo vivo e presente nno Pão partilhado que se transforma em ponto gravitacional de toda a existência.

8. Senhora do Lugar: O Oratório é consagrado à Virgem Maria, Senhora do Lugar, onde eles próprios se consagram. No coração da visão carmelita está Maria, como força de inspiração a quem eles chamam de irmã e na qual contemplam, como em figura, realizado todo seu desejo de fidelidade ao projeto de Jesus.

9. Um rítmo que orienta a vida: Viviam em um local aprazível e solitário; distantes o suficiente uns dos outros; dedicavam o seu tempo à oração e reflexão; liam as Escrituras e procuravam marcar com suas linhas os seus corações; jejuavam; trabalhavam e marcavam suas vidas ao compasso do silêncio; reuniam-se diariamente para a eucaristia e semanalmente para revisar a vida à luz do propósito comum; viviam uma vida de pobreza; seu líder era eleito e morava à porta da habitação comum; acolhiam e serviam àqueles que batiam a sua porta; desciam do Monte para irradiar a Boa Nova entre o povo do lugar. A vida no Monte Carmelo centrava suas vidas dispersas e apaziguava suas mentes confusas, libertando os seus corações das urgências e compulsões do tempo. Viveram quase 100 anos neste ritmo de vida.

10. A Norma de vida: A vida vivida foi codificada numa Regra que se transforma no referencial permanente, na Fonte que contém as indicações concretas para a fidelidade, sempre aberta para aqueles que fizerem mais. Mais do que normativa, a Regra é um elemento carismático, indicativo e dinâmico.

11. Viagem de volta: diante das dificuldades e perseguições, os carmelitas fizeram a viagem de volta, transfigurados. Deixaram o Carmelo, mas o Carmelo nunca mais os deixou. Forjaram uma nova visão do Carmelo, como referencial espiritual de suas vidas. O Carmelita é aquele que, uma vez bebendo da fonte, é capaz de refazer o caminho de volta e recontar a próprio história a partir da experiência vivida.

12. Mendicância: A dinâmica das Ordens Mendicantes é assimilada pelo Carmelo desde a sua origem e sobretudo a partir do seu retorno na Europa. Momento vivido com os conflitos próprios de toda mudança. A Regra é adaptada à nova realidade e mais uma nota é acrescida à sinfonia inicial do Carmelo, incorporando outros elementos, como a itinerância, a simplicidade de vida, o serviço ao povo de Deus nas realidades desafiadoras das cidades, a abertura ao inesperado, etc.

Estas referências simbólicas estão impressas no coração de cada carmelita, fazem parte do nosso DNA espiritual, renascem em cada nova geração e nos ajudam a entender e a viver melhor o dom especial do Carmelo para a Igreja. Eles nos provocam continuamente em nossos desejos e impulsos de fidelidade,, em nossos projetos e escolhas. Eles nos ajudam, diante dos desafios com os quais nos confrontamos, a recriar o significado de nossa vida e de nossa presença na Igreja e no mundo, mantendo a fidelidade à nossa identidade, atualizando-os numa tensão fecunda entre passado e presente em vista do futuro.

Estes 12 pontos do DNA do Carmelo podem servir como critério para a revisão periódica da nossa vida carmelitana conforme pede a Regra do Carmo quando diz: "Nos domingos ou em outros dias, caso for necessários, vocês devem tratar da observância na vida comum e do bem-estar espiritual das pessoas. Igualmente, nessa mesma ocasião, as transgressões e culpas dos irmãos, que por ventura forem encontradas em algum deles, sejam corrigidas mediante a caridade"

Uma boa semana a todos.

domingo, 23 de março de 2014

DÁ-ME DESTA ÁGUA! –(Santa Teresa de Jesus e a mulher da Samaria)



Queridos irmãos e irmãs

“A figura evangélica da “mulher de Samaria” que conversa com Jesus ao lado do poço de Jacó (Jo 4,5...) é um dos tipos bíblicos prediletos de Santa Teresa de Jesus. Não só pela condição de “mulher”, e de mulher “convertida” no encontro com o Senhor, mas pelo sugestivo simbolismo do poço, a sede e a água. Santa Teresa levava em seu breviário uma estampa com a imagem da Samaritana e de Jesus em cuja margem inferior ela mesma havia escrito: “Domine da mihi aquém” (Senhor, dá-me de beber). Essa petição e o simbolismo da misteriosa sede de Jesus e da água oferecida por Ele, são a base da tipologia doutrinal da mulher samaritana.

A samaritana entrou na vida e experiência de Santa Teresa mesma: “Oh, quantas vezes me recordo da água viva de que falou o Senhor à Samaritana, e assim sou muito afeiçoada àquele evangelho” (Livro da Vida 30,19).

“Lembro-me agora do que muitas vezes tenho pensado daquela santa Samaritana. Quão ferida ela devia estar dessa seta e quão bem tinha compreendido em seu coração as palavras do Senhor (Conc. 7,6).
No mundo dos símbolos manejados por Santa Teresa nas suas obras (sede água, horto, rega...) a Samaritana é o tipo que melhor se encarna.” A alma das “sextas moradas” já não deseja aplacá-la (a sede) a não ser com a água de que nosso Senhor falou à Samaritana. E essa ninguém lhe dá” (Moradas 6,11,5): essa água viva lha darão ao entrar na morada seguiinte. Ao orante contemplativo alenta-o ela recordando-lhe quão próximo está “da fonte de água viva da qual falou Jesus à Samaritana” (C 19,2). De certo modo, a mulher de Samaria simboliza, para Santa Teresa a unidade da vida espiritual: nela se identifica Marta e Maria; ela é o tipo da fecundidade apostólica do contemplativo, que prorrompe no amor ao próximo (Consc. C7, título).

Já em uma das suas últimas páginas, escrita a meados de 1582, Teresa recorda às leitoras de seus Carmelos que aquelas que não chegaram a gozar da solidão da clausura, “devem temer não ter encontrado a água viva de que o Senhor falou à Samaritana e que o seu Esposo delas se ocultou, e com toda razão...” (F 31,46).
Achamos bem, nesse domingo, cujo evangelho fala deste episódio do encontro de Jesus com a Samaritana,  partilhar essa página escrita pelo Frei Patricio Sciadini no livro Dicionário de Santa Teresa de Jesus.

Uma boa semana a todos.

sábado, 8 de março de 2014

O QUE O SENHOR NOS PEDE NA QUARESMA

Queridos irmãos e irmãs

O Projeta Isaías (58,9-14) diz o que o Senhor espera de nós:

"Se destruíres teus instrumentos de opressão e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa;
Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia.
O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida e renovará o vigor do teu corpo;
serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão.......
então te deleitarás no Senhor;
Eu te farei transportar sobre as alturas da terra
e desfrutar a herança de Jacó, teu pai". Falou a boca do Senhor!

Uma boa quaresma a todos!