domingo, 23 de março de 2014

DÁ-ME DESTA ÁGUA! –(Santa Teresa de Jesus e a mulher da Samaria)



Queridos irmãos e irmãs

“A figura evangélica da “mulher de Samaria” que conversa com Jesus ao lado do poço de Jacó (Jo 4,5...) é um dos tipos bíblicos prediletos de Santa Teresa de Jesus. Não só pela condição de “mulher”, e de mulher “convertida” no encontro com o Senhor, mas pelo sugestivo simbolismo do poço, a sede e a água. Santa Teresa levava em seu breviário uma estampa com a imagem da Samaritana e de Jesus em cuja margem inferior ela mesma havia escrito: “Domine da mihi aquém” (Senhor, dá-me de beber). Essa petição e o simbolismo da misteriosa sede de Jesus e da água oferecida por Ele, são a base da tipologia doutrinal da mulher samaritana.

A samaritana entrou na vida e experiência de Santa Teresa mesma: “Oh, quantas vezes me recordo da água viva de que falou o Senhor à Samaritana, e assim sou muito afeiçoada àquele evangelho” (Livro da Vida 30,19).

“Lembro-me agora do que muitas vezes tenho pensado daquela santa Samaritana. Quão ferida ela devia estar dessa seta e quão bem tinha compreendido em seu coração as palavras do Senhor (Conc. 7,6).
No mundo dos símbolos manejados por Santa Teresa nas suas obras (sede água, horto, rega...) a Samaritana é o tipo que melhor se encarna.” A alma das “sextas moradas” já não deseja aplacá-la (a sede) a não ser com a água de que nosso Senhor falou à Samaritana. E essa ninguém lhe dá” (Moradas 6,11,5): essa água viva lha darão ao entrar na morada seguiinte. Ao orante contemplativo alenta-o ela recordando-lhe quão próximo está “da fonte de água viva da qual falou Jesus à Samaritana” (C 19,2). De certo modo, a mulher de Samaria simboliza, para Santa Teresa a unidade da vida espiritual: nela se identifica Marta e Maria; ela é o tipo da fecundidade apostólica do contemplativo, que prorrompe no amor ao próximo (Consc. C7, título).

Já em uma das suas últimas páginas, escrita a meados de 1582, Teresa recorda às leitoras de seus Carmelos que aquelas que não chegaram a gozar da solidão da clausura, “devem temer não ter encontrado a água viva de que o Senhor falou à Samaritana e que o seu Esposo delas se ocultou, e com toda razão...” (F 31,46).
Achamos bem, nesse domingo, cujo evangelho fala deste episódio do encontro de Jesus com a Samaritana,  partilhar essa página escrita pelo Frei Patricio Sciadini no livro Dicionário de Santa Teresa de Jesus.

Uma boa semana a todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário