Nesta vésperas do dia dos Pais, partilho com vocês uma pérola preciosa de nosso Pai São João da Cruz, a doutrina para chegar a perfeita união com Deus. Talvez pareça um pouco difícil mas se ler com atenção, vai ver que não é tanto assim.
SUBIDA – S.J.Cruz é claro –
para chegar a união com Deus a alma há que passar pela noite. Ele é consciente
desde o início de que se trata de uma doutrina difícil de entender e mais
difícil de viver. Porém ele sabe a quem se dirige e porque se dirige: a algumas
pessoas de nossa sagrada religião por me have-lo pedido (Prólogo).
Para esta primeira parte, o
ponto de partida é o desenho do Monte. E pode ser o primeiro passo: explicar o
desenho do monte.
Esta era uma das formas
pedagógicas de Fr. João: “Entre os demais escritos que escreveu, fez um papel
que ele chama “Monte da Perfeição”, pelo qual ensinava que para subir à
perfeição nem se havia de querer bens da terra, nem do céu, senão somente não
querer nem buscar nada, senão buscar e querer em tudo a glória e honra de Deus
nosso Senhor, com coisas particulares a este propósito, o qual Monte da
Perfeição se lho declarou a esta testemunha o dito Santo Padre, sendo seu
prelado no dito convento de Granada” (Martin de S.José)
“Ali, no desenho do Monte se
verá a doutrina que ele ensinava e quão desapegado e despojado era das coisas
desta terra. Este “montezinho” dava-o ele às descalças e desejava que o
entendessem e exercitassem” (Ana de Santo Alberto).
Esse papelzinho se ló dava
frei João aos seus dirigidos para que o levassem no Breviário: “traziam nos
breviários uns papeizinhos nos quais estavam pintados e rotulados o Monte
Carmelo e sua Subida que era doutrina de grande perfeição, ordenada e feita
pelo dito servo de Deus Frei João da Cruz” (Eulógio Pacho)
“Escrevia também alguns
momentos coisas espirituais e de proveito e ali (Beas) compôs o Monte e nos
fez, a cada uma, um de seu próprio punho para o breviário” (Madalena do
Espírito Santo) No dela estava esta dedicatória: “Para minha filha Magdalena”.
Quem tornou público e
conhecido o desenho de frei João da Cruz foi Diego de Astor, personagem
importante na Espanha, discípulo de El Greco, desenhista da moeda real do
Império Espanhol, profissionalmente qualificado. Ele reproduziu o desenho que
s.J.da Cruz fez para os frades e monjas. Este tinha apenas as linhas
essenciais, sem muito colorido.Proliferou-se então os desenhos com emendas e
correções.
Significado do desenho:
1. Ao
pé do Monte – as sentenças. São encontradas em Is 13,11-13 e Is 13, 5-6. S.
J.da Cruz nos pede as atitudes fundamentais que aí estão transcritas. O fim
destas sentenças é dar doutrina para subir o Monte, que é o mais alto da união.
Pode-se aplicar ora a parte sensitiva, ora à parte espiritual, ora também a
purificação da memória (III S 15,1). Sua ideia central é a contraposição do
NADA ao TUDO.
O caráter
ascético das ditas sentenças é evidente, assim como é clara a insinuação ao papel
negativo das virtudes teologais para não saber (fé), não Gostar (caridade), não
possuir (esperança) nada fora de Deus. Se não superarmos esta primeira etapa
não escalaremos jamais o Monte:-
Modo para chegar ao TUDO:
Para vir a
saborear TUDO não queiras ter gosto em NADA;
Para vir a
saber TUDO, não queiras saber algo em NADA:
Para vir a
possuir TUDO, não queiras possuir algo em NADA
Para vir a
ser TUDO não queiras ser algo em NADA
Modo de vir ao TUDO:
Para vir ao
que não GOSTAS; hás de ir por onde não Gostas;
Para vir ao
que não SABES, hás de ir por onde não SABES;
Para vir a
possuir o que não POSSUIS, hás de ir por onde não POSSUIS;
Para chegar
ao que não ÉS, hás de ir por onde não ÉS.
Modo para não impedir ao TUDO:
Quando
reparas em algo – deixas de lançar-te ao TUDO;
Para vir de
todo ao TUDO – hás de deixar-te de todo a TUDO;
E quando
venhas de todo a ter – hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se
queres ter algo em TUDO, não tens puro em Deus o teu tesouro.
Indício de que se tem o TUDO
Nesta
desnudez encontra o espírito o seu descanso;
Pois nada
cobiçando, nada o impele para cima e nada o oprime para baixo
Porque está
no centro da sua humildade.
AS TRES SENDAS – 3 OPÇÕES
1ª SENDA –
CAMINHO DA DIREITA:
Afeição
desordenada aos bens da terra. “Quanto mais buscá-lo quis, com tanto menos me
achei”. Não pode subir ao Monte por tomar caminho errado: gosto, liberdade,
honra, etc. Se me busco a mim mesmo, não encontro a Deus. Perco o caminho.
2ª SENDA –
CAMINHO DA ESQUERDA:
Afeição
desordenada aos bens do céu. “Por have-los procurado tive menos que teria se
subisse a senda”. Tardei mais e subi menos porque não subi pela senda: Busca de
glória, segurança, gozo, consolos...Isto não te impede subir o Monte, mas te
carrega com muito peso e te atrasa porque tens que dar muitas voltas. Olha a
guerra que manterás, o tempo que perderás, as forças que dispersarás.
3ª SENDA –
CAMINHO CENTRAL. Senda da Perfeição.
Depois de
repetir 5 vezes o NADA, coloca no cimo do Monte: NADA.
Queres
chegar ao Monte? Sabes que caminho tens que percorrer? Não o da direita, não
chegarás a lugar nenhum, esbarrarás no vazio. Não o da esquerda: é possível
chegar lá, mas te cansarás porque nele dá-se muitas curvas, é cansativo.
Se queres
chegar ao Monte vai pelo centro. Busca o essencial, busca somente Deus, nega-te
a TODO o resto: “Quanto menos o queria, tenho tudo sem querer”. Encontrarás o
cêntuplo que Cristo prometeu.
Esta senda
é a única que penetra o Monte, conectando diretamente com a planície do mesmo,
na qual está escrito:
“Introduxi
vos in terram Carmeli”...Em cujo coração está o lema que presidiu a ascensão
espiritual: “Só mora neste Monte a honra e glória de Deus.”
A senda da
perfeição é mais estreita que as outras duas, o que quer dizer que o viandante
tem que estreitar-se e adelgaçar, se quiser passar (papel curativo das virtudes
teologais, cujo ofício é “apartar a alma de tudo o que é menos que Deus” b(2N
21,11).
No cume não
coloca nenhuma senda porque por aqui não há caminho, porque para o justo não há
lei. Vive-se a liberdade do amor, a liberdade dos filhos de Deus. Ele para si é
lei (Rom 2,14). É este o estado da alma que chegou ao cume da perfeição.
E o que encontra
no Monte: Fé, Esperança, Caridade. As virtudes teologais. Vive-se as virtudes
teologais. Ao redor coloca os dons do Espírito Santo, virtudes e frutos também.
São os frutos da terra do Carmelo aos quais somos chamados a saborear. É isto o
que vivem as almas que escalam o Monte.
Quando não
o quis, com amor de propriedade, foi-me dado tudo sem que o buscasse. E no
Monte, nada – por aqui não há caminho, pois para o justo não há lei. Depois que
me pus em nada, acho que nada me falta. Sabedoria, ciência, fortaleza,
conselho, inteligência, Piedade, temor de Deus, Justiça, Força, Prudência,
Temperança, Caridade, Alegria, Paz, Longanimidade, Paciência, Bondade,
Benignidade, Mansidão, Fé, Modéstia, Continência, Castidade, Segurança, Fé,
Amor, Esperança, divino Silêncio, Divina Sabedoria, Perene Convívio – Só mora
neste Monte a honra e glória de Deus:
“Eu vos
introduzi na terra do Carmelo, para que comêsseis o seu fruto e o melhor dela”
(Jr 2,7).
Uma boa semana a todos.