“Como disse Santo Agostinho: A Paixão de Cristo é suficiente
para ser o modelo de toda a nossa vida. Quem quer que queira ser perfeito na
vida, nada mais é necessário fazer senão desprezar o que Cristo desprezou na
cruz, e desejar o que nela Ele desejou”.
Nenhum exemplo de virtude deixa de estar presente na Cruz.
Se nela buscas um exemplo de caridade, -“ ninguém tem maior caridade do que
aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo, 15,15). Ora, foi o que Cristo fez na
cruz.
Por isso, já que Cristo entregou a sua vida por nós, não nos
deve ser pesado suportar toda espécie de males por amor a Ele.: “O que
retribuirei ao Senhor, por todas as coisas que Ele me deu?” ( Sl 115,12).
Se procuras na cruz um exemplo de paciência, nela
encontrarás imensa paciência. A paciência manifesta-se extraordinária de dois
modos: ou quando alguém suporta grandes males pacientemente, ou quando suporta
aquilo que poderia ser evitado e não quis evitar.
Cristo na cruz suportou grandes sofrimentos: “Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede
se há dor igual a minha!” (Lm 1,12); como a ovelha levada para o matadouro, e
como o cordeiro silencioso na tosquia (1Pd 2,23).
Cristo na Cruz suportou também os males que poderia ter
evitado, mas não os evitou: “julgai que não posso rogar a meu Pai e que Ele
logo não me envie mais que doze legiões de Anjos?” (Mt 26,53)
Realmente a paciência de Cristo na cruz foi imensa! “Corramos
com paciência para o combate que nos espera, com os olhos fitos em Jesus, o
autor da nossa fé, que a levará ao termo; Ele que, lhe tendo sido oferecida a
alegria, suportou a cruz sem levar em consideração a sua humilhação” (Hb 36,17)
Se desejares ver na cruz um exemplo de humildade, basta-te
olhar para o crucifixo. Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer: “A
vossa causa, Senhor, foi julgada como a de um ímpio” (Jo 36,17). Sim, de um
ímpio, porque disseram: Condenemo-lo a uma morte muito vergonhosa (Sb2,20).
O Senhor quis morrer pelo seu servo, e Aquele que dá a vida
aos Anjos, pelo homem: Fez-se obediente até à morte” (Fl 2,8)
Se queres na cruz um exemplo de obediência, segue Aquele que
se fez obediente ao Pai, até a morte: “Assim como pela desobediência de um só
homem, muitos se tornaram pecadores, também pela obediência de um só homem,
muitos se tornaram justos” (Rm 5,19).
Se na cruz estás procurando um exemplo de desprezo das
coisas terrenas, segue Àquele que é o Rei e o Senhor dos Senhores, no qual
estão os tesouros da sabedoria, mas que na cruz aparece nu, ridicularizado,
escarrado, flagelado, coroado de espinhos, na
sede saciado com fel e vinagre, e morto.
Não te deves apegar às vestes e às riquezas, porque
dividiram entre si as minhas vestes (Sl 29,29); nem às honras, porque puseram
em minha cabeça uma coroa de espinhos que trançaram; nem às delícias, porque na
minha sede deram-me vinagre para beber (Sl 68,22).
Comentando este texto da Carta aos Hebreus – “Que apesar de
lhe oferecerem alegria, suportou a cruz, desprezando a humilhação dela” (!2,2),
Agostinho nos diz: “O homem, Cristo Jesus, desprezou todos os bens terrenos
para mostrar que devem ser desprezados.”
Uma Santa Quaresma a todos!
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