quarta-feira, 26 de outubro de 2016

ENTENDERÁS MAIS TARDE

Queridos irmãos e irmãs

Partilho convosco essa reflexão muito importante sobre o lavapés, tirada do Livro Falar com Deus, da editora Quadrante:

NA ÚLTIMA NOITE que Jesus passou com os seus discípulos antes da sua Paixão e Morte, num determinado momento daquela Ceia íntima, levantou-se, depôs o manto e, pegando numa toalha, cingiu-se1. São João, o Evangelista que nos deixou escritas as suas inesquecíveis recordações da Quinta-Feira Santa, descreve pausadamente aqueles acontecimentos que com tanta profundidade lhe ficaram gravados para sempre: Depois lançou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, e a limpar-lhos com a toalha com que se tinha cingido.
Tudo transcorria normalmente, ante o assombro dos Apóstolos, que não se atreviam a dizer palavra, até que o Senhor chegou a Pedro, que manifestou em voz alta a sua surpresa e a sua negativa: Senhor, tu lavares-me os pés? Jesus respondeu-lhe: O que eu faço, tu não o entendes agora, mas entendê-lo-ás mais tarde. Depois de um afável braço-de-ferro com o Apóstolo, Jesus lavar-lhe-á os pés, como o fizera com os outros. Com a vinda do Espírito Santo, ao relembrar esses acontecimentos, Simão compreendeu o significado profundo do gesto do Mestre, que assim quis ensinar aos que seriam as colunas da Igreja a missão de serviço que os aguardava.
O que eu faço, tu não o entendes agora... Passa-se conosco o mesmo que com Pedro: às vezes, não compreendemos os acontecimentos que o Senhor permite: a dor, a doença, a ruína econômica, a perda do emprego, a morte de um ser querido quando estava no começo da vida... Ele tem uns planos mais altos, que abarcam esta vida e a felicidade eterna. A nossa mente mal alcança as coisas mais imediatas, uma felicidade a curto prazo. Como não havemos de confiar no Senhor, na sua Providência amorosa? Só confiaremos nEle quando os acontecimentos nos parecerem humanamente aceitáveis? Estamos nas suas mãos, e em nenhum outro lugar poderíamos estar melhor. Um dia, no fim da nossa vida, o Senhor explicar-nos-á em pormenor o porquê de tantas coisas que agora não entendemos, e veremos a sua mão providente em tudo, até nas coisas mais insignificantes.
Se diante de cada fracasso, diante dos acontecimentos que não sabemos discernir, ante a injustiça que nos revolta, ouvirmos a voz consoladora de Jesus que nos diz: O que eu faço, tu não o entendes agora, mas entendê-lo-ás mais tarde, então não haverá lugar para o ressentimento ou para a tristeza. “Porque tudo o que acontece está previsto por Deus e ordenado para a salvação do homem e para a sua plena realização na glória; se o que acontece é bom, Deus o quer; se é mau, não o quer, permite-o, porque respeita a liberdade do homem e a ordem natural, mas tem nas suas mãos o poder de tirar bem e proveito para a alma, mesmo do mal”2.
Em face dos acontecimentos que fazem sofrer, tem de sair do fundo da nossa alma uma oração simples, humilde, confiante: Senhor, Tu sabes mais, abandono-me em Ti. Entenderei mais tard